Diante da mudança na composição da riqueza em todo o mundo, com aumento dos ganhos financeiros em detrimento dos salários, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo afirmou que a taxação de grandes fortunas é uma das saídas para a crise. A medida foi aprovada, recentemente, na Argentina, para cobrir gastos extraordinários com a pandemia.
Na segunda parte da entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (29), Belluzzo defendeu que “não há outro caminho” para as sociedades na busca pela redução das desigualdades sociais.
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Na primeira parte, o economista, que é professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), havia tratado dos impactos da pandemia e do fim do auxílio emergencial no cenário econômico de 2021.
“Se você quer ter uma economia mais inclusiva e solidária, vão ter que taxar as grandes fortunas. Tem que taxar o patrimônio. No Brasil, o patrimônio tem uma participação ínfima na receita fiscal. Assim como o nosso imposto de renda também é muito favorável aos ricos. A faixa mais alta da renda tem uma alíquota muito baixa. Uma das mais baixas, se não a mais baixa do mundo”, disse o economista.
Além disso, para a retomada do crescimento, Belluzzo voltou a defender investimentos públicos para estimular a criação de empregos.
“É preciso dirigir o gasto público, o investimento, para os setores que geram mais empregos e, portanto, têm maior capacidade de multiplicação de renda. O FMI está defendendo isso. Porque os indivíduos vão se sentir seguros e começar a gastar, a partir de um gasto originário do estado”, declarou.
Veneno neoliberal
Analisando a trajetória da economia brasileira, Belluzzo lembrou que até a década de 1980 o Brasil era o mais industrializado, entre os países em desenvolvimento.
Naquele momento, a partir do diagnóstico equivocado de que a crise da dívida externa teria sido causada pelo excesso de intervenção do Estado na economia, “a nuvem venenosa neoliberal foi se apoderando dos espíritos”.
Outro momento de avanço das ideias neoliberais foi durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Até mesmo o ajuste fiscal promovido pelo então ministro da Fazenda Joaquim Levy, durante o governo Dilma, foi criticado por Belluzzo. Hoje, segundo ele, não há espaço para divergência nos meios de comunicação tradicionais, que insistem na redução dos gastos públicos como a única receita econômica possível.