Coluna

Festa na periferia

Imagem de perfil do Colunistaesd

Ouça o áudio:

O churrasco iniciado no sábado de manhã terminava no domingo à noite - Unsplash
Em festa de rico a gente acaba saindo com fome

Tem gente que sonha morar num condomínio desses de ricos. Eu acho uma porcaria.

Parece lugar feito para você viver isolado, com vizinhos mas sem nenhum contato com eles. As ruas são vazias.

Um amigo meu, uma vez, para falar mal de um bairro em Campinas, me disse:

- Ô, lugar chato. Você não vê ninguém nas ruas.

Leia também: De trem para o Sul 

É isso... bairro de pobre geralmente é muito mais animado.

E festa de pobre também acho muito mais divertida, e até, parece meio contraditório, com mais fartura.

Outro amigo dizia que em festa de rico demoram para começar a servir e parece tudo meio regulado. Segundo ele, em festa de rico a gente acaba saindo com fome.

Concordo em parte. Aqui em São Paulo, eu gosto de umas festas em casa de gente que não é rica, principalmente na periferia.

Tudo é com fartura. Se a bebida for cerveja, é muita cerveja, sem regular pra servir.

Se a comida for sanduíche de mortadela, são bacias de sanduíches para pegar quantos quiser e quando quiser.

Eu me lembro de uns churrascos em casas de amigos da Zona Leste de São Paulo.

Leia mais: O fardado 

Era muita fartura. Bebida e comida que nem acabavam num dia. Os churrascos costumavam começar no sábado de manhã, iam até a noite, e no domingo tinha a soca, o consumo do que sobrou, e o que sobrava era muito.

O churrasco iniciado no sábado de manhã terminava no domingo à noite.

Uma época era tanta gente nos churrascos que eles precisavam ser feitos num lugar mais espaçoso.

Um amigo, que vou chamar de Juca, ganhava pouco como pedreiro, tinha seis filhos e morava numa casa pequena, mas num terreno bem grande, onde os amigos fizeram uma churrasqueira. E todas as festas passaram a ser lá.

Um dia o Marinho cismou com uma coisa: o churrasco começava sempre com linguiça calabresa, que ele comprava aos montes, mas elas acabavam logo.

:: O homem de Macau :: 

Num desses churrascos, descobriu porque isso acontecia. Meio de fogo, entrou na casa para ir ao banheiro, mas errou e entrou num quarto. Um cachorro estava debaixo de uma cama e ele quis pôr o bicho pra fora.

Deu uns gritos e o cachorro saiu correndo... só que levando na boca uma fieira bem grande de linguiça calabresa.

Com a vida difícil, pouca grana, o Juca escondia para a sua família parte das linguiças calabresas numa bacia debaixo da cama.

Foi traído pelo seu cachorro, e virou uma gozação. Não brigaram com ele, todo mundo caiu na gargalhada...

E as festas continuaram sendo feitas na casa dele...

Edição: Douglas Matos