“E quem nos ajudará, a não ser a própria gente?”, são versos que exprimem a grande rede de solidariedade cultivada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais em todo o Brasil em meio à pandemia de covid-19.
Escrita nas terras do bumba meu boi pelo operário da sensibilidade, a canção Oração Latina do maranhense César Teixeira fala sobre sofrimento, mas também esperança e solidariedade entre os povos.
Alimentar a esperança e a solidariedade em tempos de pandemia é prática constante, urgente e necessária do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No estado do Maranhão, o movimento foi premiado pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), em reconhecimento às iniciativas realizadas durante esse período.
Logo no início da pandemia, o comércio foi fechado, as pessoas isoladas e uma parcela significativa se viu em total abandono, que foram os sem teto, nas ruas vazias. Diante disso, a primeira ação do movimento no estado foi o Café Solidário, que serviu diariamente café da manhã à população em situação de rua.
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Um dos dirigentes do movimento no estado, Aldenir Gomes explica que combater as desigualdades é tarefa histórica do MST, mas diante da pandemia, a tarefa ficou ainda mais evidente e, para além de alimentar, compõe um projeto de sociedade em construção.
"O MST tem uma tarefa histórica de combater as desigualdades, e no período da pandemia essa tarefa ficou mais evidente. Alimentar a população com alimentos saudáveis, sem veneno e sobretudo, no momento em que se fala em alimentação saudável, requer pautar vários elementos da produção agroecológica e que esteja vinculado a um projeto de sociedade”, explica.
Em todo o Brasil, trabalhadores rurais do movimento já doaram mais de 3 mil toneladas de alimentos para bairros das periferias urbanas, como resultado de uma decisão política de solidariedade ativa aos trabalhadores da cidade.
Mas além de alimentos para o corpo, Aldenir Gomes reforça a necessidade de alimentar a esperança das pessoas e condições para a construção de uma nova sociedade.
Nesse sentido, o movimento realizou também ações de conscientização, plantio de mudas e formação de agentes populares de saúde que possam atuar nas suas áreas, promovendo e estimulando ainda o autocuidado e o cuidado entre os demais.
O plantio de mudas e alimentos saudáveis é um projeto político e social do movimento a nível nacional que pretende efetuar o plantio de 100 milhões de árvores nos próximos dez anos. Apesar da pandemia, a ação foi continuada como forma de autocuidado e preservação do meio ambiente, ainda que de maneira isolada nos territórios.
“São processos importantes para além da alimentação, do ato de alimentar o corpo, você precisa alimentar a mente, alimentar o afeto e também alimentar a esperança. Alimentar a esperança de que uma nova sociedade é possível. A solidariedade de classe se expressa nessas ações e o movimento busca cultivar esse sentimento e esse princípio”.
O prêmio foi entregue em cerimônia online, realizada dia 11 de dezembro, como parte das comemorações pelo aniversário de 72 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Edição: Leandro Melito