Minha mãe teve que cumprir uma promessa mais maluca, envolvendo o sobrenome do primeiro filho dela
Acho que já comentei aqui sobre a mania de fazer promessas para os outros cumprirem. Na minha família isso era comum. Meu avô por parte de mãe fazia muitas promessas para as filhas e os filhos cumprirem, principalmente as filhas, que eram mais obedientes e achavam que tinham que cumprir mesmo.
Exemplos: uma das minhas tias teve que usar só vestido de brim arranca-toco durante um ano. Para quem não sabe, brim arranca-toco era o mais grosseiro e barato, sempre listrado em preto e alguns tons de cinza. Era desse tipo de brim que faziam as calças para trabalhadores da roça usarem para capinar.
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Outra tia, menos azarada, também obedecendo promessa do meu avô, usou só vestidos de um tecido azul menos grosseiro durante um ano.
Minha mãe teve que cumprir uma promessa mais maluca, envolvendo o sobrenome do primeiro filho dela.
Pouco depois de dar à luz, ela recebeu a visita do meu avô, que perguntou se o parto tinha sido bom, se a criança nasceu saudável. Ela disse que sim, e ele falou:
- Eu fiz uma promessa para os Santos Reis, que se o parto fosse bom e a criança nascesse com saúde, ia ser batizado com o sobrenome Reis.
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Ela tinha o sobrenome Torres e meu pai, Silva. O menino foi batizado como Antônio Guilherme dos Reis. Ah, esse Guilherme também foi um pedido dele, que se chamava João Guilherme Torres.
Bom, tem gente que encontra maneiras de driblar as promessas. Cumpre, mas fazendo umas adaptações. Um caipira encontrou uma maneira muito esperta de cumprir a promessa feita a um santo.
A mulher dele estava com uma doença grave e ele prometeu ao santo padroeiro da cidade que, se ela sarasse, ele venderia um boi, o único que tinha, e daria o dinheiro para a igreja.
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Ela sarou e ele pensou: “Agora tenho que cumprir a promessa”. Mas vacilava. Era pobre e ia dar à igreja um dinheiro que lhe faria muita falta. Mas se não cumprisse a promessa, poderia ser castigado pelo santo.
Matutou, matutou... e foi para a cidade levando o boi e uma galinha para vender. O dinheiro da venda do boi iria para o santo e o da galinha ficaria com ele mesmo.
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O boi ia com uma tabuleta pendurada no pescoço, com os dizeres: “Vendo este boi por R$ 50”.
Logo apareceram compradores interessados, claro. Mas aí ele fez uma ressalva:
- Quem quiser levar o boi por 50 reais vai ter que levar esta galinha por R$ 3 mil.
O santo não ia poder reclamar, né? Ficaria com o dinheiro do boi.
Edição: Daniel Lamir