Apoiadores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, invadiram o Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (6), em Washington. Os manifestantes violaram a segurança e entraram no prédio durante a sessão que certificaria a vitória do candidato de oposição Joe Biden (Partido Democrata) nas eleições de novembro de 2020, confirmando o resultado reconhecido pelo Colégio Eleitoral.
Do lado de fora, milhares de extremistas e simpatizantes de Donald Trump (Partido Republicano) protestaram contra a cerimônia e entraram em confronto com a polícia. Um pequeno grupo quebrou janelas e invadiu o prédio do Congresso. Até o momento, não há confirmação sobre o número de pessoas feridas ou detidas.
"Esta é uma tentativa de golpe", afirmou o senador republicano Adam Kinzinger pelas redes sociais.
Os manifestantes que se aglomeraram entre os 3 km que separam a Casa Branca e o Congresso aderem à narrativa do atual presidente de que houve fraude durante a eleição e a apuração dos votos.
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A Câmara e o Senado deveriam contar e certificar os votos do Colégio Eleitoral: 306 para Biden, 232 para Trump. A cerimônia costuma ser encarada como mera formalidade, mas as acusações feitas pelo atual presidente, sem apresentar provas, e ameaças de que uma bomba explodiria durante a sessão tornaram o evento um acontecimento político.
A sessão foi suspensa, sem data e horário para ser retomada. A posse de Biden está prevista para 20 de janeiro, quando também são esperados protestos da ala radical do Partido Republicano.
Insistência
Trump não admite a derrota e promete aos apoiadores que continuará tentando reverter a suposta fraude. O jornal The Washington Post, um dos mais lidos nos Estados Unidos, divulgou no último final de semana um telefonema em que ele pressiona o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, a "encontrar" 11.779 votos para o Partido Republicano, o que seria suficiente para virar o jogo.
Raffensperger, do mesmo partido de Trump, resiste às pressões e reafirma que não há indícios de irregularidades na apuração. "Nós nunca vamos desistir e nunca vamos admitir [a derrota]", disse Trump nesta quarta aos manifestantes, acrescentando que venceu as eleições "por muito" e que a imprensa "se tornou inimiga do povo".
A sessão no Congresso é presidida pelo vice de Trump, Mike Pence. Apesar das pressões do presidente, ele não tem o poder de reverter o resultado, restando como única opção reconhecer a vitória de Biden.
Analistas ouvidos pelo Brasil de Fato ao longo da semana avaliaram que, ao continuar apostando na hipótese de fraude, o republicano "joga para a base" e mantém seus apoiadores inflamados, sinalizando que será um ator político relevante mesmo fora do governo.
Quem é Biden
Joseph Robinette Biden Jr. tem 77 anos e foi vice de Barack Obama nas duas passagens pela Casa Branca. Entre 1973 e 2009, exerceu seis mandatos consecutivos como senador pelo estado de Delaware.
Porta-voz do setor "moderado" no partido, Biden venceu as prévias após Bernie Sanders, da ala progressista do Partido Democrata, retirar sua candidatura em meio ao processo de escolha interna da sigla.
Como senador, Biden votou a favor da invasão estadunidense no Iraque. O democrata estava presente quando o então presidente George Bush assinou o decreto autorizando o uso da força no território iraquiano. Alguns anos após a invasão, Biden mudou de posição e hoje se refere àquele voto como um erro.
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Outro episódio negativo da sua trajetória foram as denúncias de assédio sexual que vieram à tona em 2019. Quatro mulheres afirmaram que o democrata as havia tocado de uma forma inapropriada no passado.
Biden se defendeu das acusações afirmando que deu "inúmeros apertos de mão, abraços, expressões de afeto, de apoio e de consolo. Nem uma só vez, nunca, pensei ter atuado de maneira inapropriada. Se é sugerido que este é o caso, vou escutar respeitosamente. Mas jamais foi a minha intenção."
Biden foi eleito com a promessa de restaurar “tudo o que se perdeu” com a gestão atual e de oferecer respostas aos impactos da pandemia baseadas na ciência. O desemprego alcançou níveis recordes em meio à crise sanitária nos Estados Unidos e atinge cerca de 16 milhões de pessoas. O país também é o primeiro colocado no ranking de mortes por coronavírus.
A escolha da senadora Kamala Harris como vice é considerada um dos trunfos da candidatura, na esteira dos protestos antirracistas que sacudiram o país entre maio e outubro.
Filha de mãe indiana e pai jamaicano, Harris é senadora pela Califórnia e atuou como procuradora-geral estadual desde 2011. Ela é a primeira senadora filha de imigrantes e tem interlocução tanto com o campo "moderado" democrata quanto com personalidades progressistas.
Edição: Leandro Melito