Pedagroeco foi inspirado para desenvolver uma pedagogia do campo com enfoque agroecológico
O conceito de agroecologia é amplo e complexo. Ao mesmo tempo, isso não significa necessariamente difícil e inacessível. As próprias práticas de povos tradicionais afirmam, por exemplo, sua presença na ideia de uma grande teia de saberes agroecológicos.
Esse emaranhado de conversações também pode ser visto na dimensão do tempo. O recorte geracional da agroecologia, por exemplo, está no jogo de um juventude que vive sua contemporaneidade, mas dialoga também com suas ancestralidades.
:: Guardiãs e guardiões de sementes crioulas partilham grãos como forma de resistência ::
Nessa perspectiva, em 2017, nasceu o Pedagroeco. O projeto durou dois anos e favoreceu processos de educomunicação com a juventude de cinco estados nordestinos. As atividades juntaram as histórias locais, presentes na oralidade, com a produção de conteúdo multimídia.
O processo incentivou a produção de histórias pessoais e coletivas na perspectiva de formação de vínculos e de aprendizagens, presentes na Pedagogia Griô.
:: Papel de ferramentas tecnológicas durante a pandemia é destaque no programa Bem Viver ::
A conclusão do Pedagroeco em 2019 manteve viva redes agroecológicas nos estados de Alagoas, Bahia, Paraíba, Piauí e Sergipe. Os grupos contam com perfis como estudantes de agroecologia, juventude agricultora, técnicos de organizações sociais, mestres das comunidades e artistas.
A iniciativa foi tocada pela Embrapa, coletivamente com organizações e redes populares, que participaram da formulação e execução do projeto. A pedagoga Juliana Andrea, da Embrapa com sede em Brasília (DF), liderou o projeto e explica a origem do nome Pedagroeco.
“O nome Pedagroeco foi inspirado na perspectiva de desenvolver uma pedagogia do campo com enfoque agroecológico. Daí o nome Pedagroeco, pedagogia e agroecologia”, exeplica Juliana, que fez mestrado em Educação do Campo e é aprendiz griô, uma das etapas da formação da Pedagogia Griô.
:: Por que as ideias de Paulo Freire ainda incomodam? ::
A experiência do Pedagroeco está sendo registrada em livro, disponível na internet. Além de Juliana, Fernando Curado é um dos editores técnicos da publicação. Ele afirma que a obra serve como inspiração para outros processos metodológicos possíveis.
“Não se trata de um guia metodológico. Longe disso. Mas o livro inspira, do ponto de vista metodológico, outras intervenções, outras possibilidades de diálogo entre a ciência e as comunidades locais, sejam assentamentos, comunidades quilombolas e diversos grupos sociais”, salienta Fernando, que atua na Embrapa Alimentos, com sede em Maceió (AL).
Pedagogia Griô
O Pedagroeco encontrou sustentação metodológica na Pedagogia Griô. Para tanto, o projeto contou com formações ministradas pela educadora Lilian Pacheco, coordenadora pedagógica dos projetos Grãos de Luz e Griô, Ação Griô Nacional, Trilhas Griô e Universidade Griô.
Ao abraçar a Pedagogia Griô, o Pedagroeco ampliou seu olhar para as questões de identidades, ancestralidades e territorialidades da juventude agroecológica que convive com o semiárido.
:: Luzia Simões é a pedreira que desconstrói o machismo no Sertão do Pajeú (PE) ::
Assim, pautas cotidianas como a luta antirracista e feminista, por exemplo, dialogam com valores e visões locais.
“São pautas importantes hoje no mundo contemporâneo que abrem o diálogo e interação com a tradição, para reinventá-la. Então são contribuições que acontecem nessas relações intergeracionais que a Pedagogia Griô facilita em suas práticas pedagógicas, tanto afetivas quanto científicas”, afirma Lilian Pacheco, que é a criadora da Pedagogia Griô.
Juventude protagonista
O jovem Miguel Andrade é ator, escritor e estudante do Instituto Federal do Piauí (IFPI). Ele participou de dois módulos do projeto e compartilha uma proposta de continuidade do processo vivenciado pelo Pedagroeco.
:: Marcha de mulheres na Paraíba une luta contra violência e defesa da agroecologia ::
“Eu lembro que a gente sempre falava sobre ser semente. E isso é o que realmente eu sou hoje. Porque o projeto me beneficiou a ser tantas coisas, a aprender tantas coisas. O poder de fala, de ouvir o outro, e de acolher o outro como ele é. Sempre gosto de falar que sou um diamantezinho que ainda está se lapidando. E o Pedagroeco me ensinou a ser resiliente. Hoje eu sou homem empoderado”, destaca o jovem que integra a rede Pedagroeco Piauí.
A educadora Domênica Rodrigues facilitou encontros no Piauí e ressalta uma das lembranças no processo. Entre os dois módulos no estado ela percebeu uma mudança na postura da juventude participante, que conquistou uma autonomia e posição participante no projeto.
:: Além do alimento: programa Bem Viver aborda aspectos políticos da agroecologia ::
"No segundo encontro foi um protagonismo dos jovens ao ponto deles escolherem como e onde queriam que as atividades fossem feitas. Para tanto, a própria juventude fez propostas metodológicas e organizou a mobilização na comunidade", lembra Domênica.
O "segredo" desse processo encontra respostas na própria Pedagogia Griô, tanto na opinião de Domênica quanto da relações públicas Magda Cruciol.
"Óbvio que esse processo de empoderamento da juventude vem de processos anteriores de um deles. Mas a afirmação da identidade, ancestralidades e vivência nas comunidades potencializa bastante essa condição da juventude", ressalta Magda, que atua na Embrapa e também coordenou atividades do Pedagroeco.
Lançamento
A publicação que sistematiza a experiência está intitulada como “Juventudes, identidades e saberes agroecológicos”, com edição pela Embrapa. O lançamento oficial será no próximo dia 21 de janeiro, às 19h, durante as atividades remotas do Encontro Nacional de Pedagogia Griô, que será realizado de 18 a 24 de janeiro de 2021.
Edição: Douglas Matos