A inserção e valorização das crianças na luta pela reforma agrária é o tema do livro “Os Sem Terrinha - uma história de luta social no Brasil”. A autoria da publicação é da jornalista e historiadora Monyse Ravenna e foi lançada em dezembro de 2020 pela editora Expressão Popular.
A obra é resultado de pesquisa no campo da história, envolvendo temas como comunicação popular, representação da infância na mídia e movimentos populares.
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Monyse Ravenna explica, por exemplo, que as crianças camponesas foram historicamente invisibilizadas pelo estigma de que eram exploradas pelos pais camponeses. Assim, a produção midiática contrária ao direito à terra insistiu em não enxergar os direitos das crianças sem-terra.
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“Ela está ali porque não poderia estar em outro lugar. Ela é um sujeito de direitos, um sujeito da história, um sujeito que está se formando também no processo de luta social. Então, são extremamente estigmatizadas, junto com o conjunto do movimento. Elas também sofrem essa violência da mídia, amplamente”, pontua a jornalista.
Além da forma midiática, Monyse Ravenna destaca o uso da violência judicial e policial, exercida por grupos econômicos poderosos, milícias formadas por latifundiários, além de forças de repressão do Estado.
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Para tanto, foram analisados jornais e revistas do MST. O acervo junta denúncias de sofrimentos por ameaças, terror psicológico, torturas, assassinatos, envenenamento de rios e despejos violentos e ilegais no período de 1981 a 2012.
“O que me chamou muito a atenção é a violência com que essas crianças são tratadas, tanto pelo Estado quanto pelo grande capital, os latifundiários, do agronegócio. Elas não são poupadas porque são crianças. Elas sofrem diversas violências”, destaca.
Especificamente, a publicação acompanha a trajetória política e a construção da identidade infantil de filhas de camponesas e camponeses expropriados da terra. Por isso, a pesquisa adentrou um acervo de boletins, textos e fotos publicadas em jornais e revistas ligadas ao MST.
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Segundo a escritora, a criação da Ciranda Infantil, em meados dos anos 1990, foi o grande marco para que se formasse a identidade das crianças “sem-terrinha”. O espaço proporciona formações e favorece o desenvolvimento da educação e da cultura.
“A Ciranda é uma demanda das mulheres sem-terra, que precisavam de mais estrutura, acolhimento e comprometimento do movimento para que elas pudessem participar das suas atividades políticas, do seu trabalho político, com mais tranquilidade, porque elas também ficavam com a responsabilidade do cuidado dos filhos. Quando isso se consolida, passa a ser um marco, porque as crianças passam a se reunir”, avalia.
O trabalho da Ciranda do MST reforça a organicidade do movimento e a luta social por direitos como a alimentação saudável, habitação, saúde e educação.
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“A partir desse conjunto de iniciativas, elas [as crianças] vão criando essa identidade coletiva de sem-terrinha e vão ajudando o movimento a não ser um movimento só de condutas adultas, contribuindo assim para ser um movimento social de todos e todas. Então elas estão com um papel nessas mudanças que vão ocorrendo”, afirma.
O livro “Os Sem Terrinha - uma história de luta social no Brasil” está disponível no site da editora Expressão Popular.
*Com acompanhamento de Erick Gimenes
Edição: Daniel Lamir