Mais de 100 mil estudantes amazonenses não sabem se irão realizar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) prevista para este domingo, dia 17. Isso porque, o governo federal recorreu de decisão da Justiça Federal do Amazonas, que havia cancelado o exame em todo o estado.
O Amazonas está sob decreto de calamidade pública e toque de recolher devido ao colapso do sistema de saúde pública. Até esta quinta-feira (14), foram registrados no estado 5.920 óbitos e 223.360 casos da doença no estado em razão da doença, segundo o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
O primeiro a anunciar a decisão foi o município de Manaus, que teve a crise agravada desde quinta-feira (13) devido à falta de oxigênio nas unidades de saúde.
“Aqui a situação não está para brincadeira e nós não vamos tomar nenhuma decisão que ponha em risco a vida das pessoas, seja dos estudantes, seja dos profissionais da educação que trabalham nas nossas escolas. Então o cuidado é com as vidas dessas pessoas”, afirmou o secretário de educação de Manaus, Pauderney Avelino, na quinta-feira (13).
Com previsão de mobilizar quase 6 milhões de estudantes de todo país, o exame tem sido alvo de críticas de entidades estudantis e da saúde, por acontecer durante o período de agravamento da pandemia no país.
“Estamos muito preocupados, não há nenhuma segurança para realizar esse evento no momento de grande aumento do número de casos. E o risco que nós da saúde chamamos a atenção: colapso do sistema de saúde", afirma Gulnar Azevedo, médica sanitarista e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, uma das entidades que assinou carta pedindo o adiamento do Enem
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"Porque se a pandemia ela cresce em situação exponencial, consequentemente vamos ter também uma proporção de pessoas que vão precisar de assistência”, ressalta.
Segundo o Ministério da Educação (MEC), R$ 64 milhões estão sendo destinados às medidas de prevenção durante as provas, incluindo aquisições de equipamentos de proteção individual para os profissionais da educação e álcool em gel que será distribuído nos locais de aplicação de prova.
Porém não foi estabelecido nenhum controle de pessoas com sintomas, nem forma de medição de temperatura dos candidatos antes da prova.
Élida Elena, vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), afirma que a realização da prova nessas condições é inadmissível e que o governo não tem respeitado a opinião dos estudantes.
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“É absurdo, a gente vê que o governo não se importa com a vida, com saúde das pessoas. Muitas escolas no Brasil não tem banheiro, não tem água, não tem pia, não tem detergente para lavar as mãos. A gente tá falando em uma prova que dura 6 horas, então são muitas questões de insegurança para os estudantes”, afirma a representante estudantil.
As organizações afirmam que, se aplicado agora, o teste iria reforçar ainda mais as desigualdades sociais. Considerando que só uma minoria de estudantes teve condições adequadas de estudo durante a pandemia.
Apesar das diversas requisições, Alexandre Lopes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inpe) afirmou que não há possibilidade de adiamento.
"Não trabalhamos com a hipótese de adiamento, o que pode haver é um cancelamento em algumas cidades. Se a gente não puder aplicar a prova, infelizmente essa cidade vai ficar fora do Enem de 2020", explicou Lopes em entrevista à CNN Brasil.
Postergado devido a pandemia que assola o país desde o ano passado, o Enem 2020 possui 5,7 milhões de inscritos, e tem previsão de ocorrer em 14 mil locais de prova e 205 mil salas em todo o país. Para os candidatos que tiverem contraído covid, há previsão de reaplicação nos dias 23 e 24 de fevereiro
Edição: Leandro Melito