Falta de fiscalização para distanciamento e uso de máscara nas filas, salas mal ventiladas, ausência de identificação nas mesas para que os concorrentes ficassem distantes uns dos outros e estudantes que foram impedidos de fazer a prova foram alguns dos problemas ocorridos durante a primeira fase da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no Paraná, neste domingo (17).
Outro agravante decorrente do contexto da pandemia do coronavírus foi que mais da metade dos estudantes inscritos não compareceram. Dos 233.215 inscritos no Paraná, 121.637, ou seja, 52% faltaram, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
:: Abstenção recorde: como ficam os 2,8 milhões de inscritos que faltaram ao Enem? ::
Apesar da mobilização da comunidade educacional e entidades estudantis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), que reivindicaram o adiamento do processo seletivo por considerarem ser um risco aos estudantes e famílias, em um momento crítico da pandemia do coronavírus, o Ministério da Educação (MEC) manteve a prova. Mesmo com inúmeros problemas ocorridos em todo o Brasil e o alto número de abstenção, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse à imprensa, no domingo, que estava satisfeito com o que fora feito.
De outro lado, inúmeros estudantes, ao final da prova, foram às redes sociais relatar problemas e a insegurança que sentiram. Entre as irregularidades mais graves, o impedimento de muitos alunos fazerem a prova, mesmo chegando ao local no horário. Isso aconteceu devido a uma normativa divulgada pelo MEC um dia antes da prova, em que as salas das provas só poderiam ter lotação de 50% da sua capacidade.
Esse foi o caso da estudante Amanda Neri da Silva, que chegou a fazer um vídeo no local que deveria fazer a sua prova informando que foi impedida. “Fiz esse vídeo para comprovar que estou aqui no Colégio Francisco Zardo, local do meu ensalamento, e eu e alguns alunos selecionados não entramos. Fomos informados que só poderia ter 50% da capacidade de lotação nas salas e parece que fomos sorteados para não entrar, mesmo chegando bem antes do horário de fechamento dos portões”, disse.
:: Enem no escuro: queda de energia prejudicou e aglomerou candidatos em Pernambuco ::
Falta de fiscalização para distanciamento
Já Lian Voigt Lara, 26 anos, de Curitiba, disse que chegou a pensar em desistir quando viu que, no seu local de prova, não havia nenhum distanciamento e fiscalização. “Fiquei bem apreensiva, pois quando estava indo para fazer a prova, passei em vários outros locais e via aglomeração e muita gente sem máscara. Chegando ao meu local, optei por entrar quando chegasse mais perto do horário final, pois tinha muita aglomeração”, relatou Lian, que deseja tentar uma vaga em Engenharia Florestal.
Ela conta também que os fiscais não usavam álcool em gel para manusear materiais. “A fiscal que dava o saquinho para colocar celular, passava para gente e não tinha álcool em gel”, afirmou.
O mesmo sentimento de apreensão sentiu a estudante Bruna de Paula Mendes, 17 anos, de Irati. Ela disse que quer cursar Psicologia em uma universidade pública e não queria perder a oportunidade de tentar uma vaga através do Enem.
“Fiquei apreensiva em relação ao contexto de pandemia, achava que iria ser adiada. Como não foi, eu preferi não perder a oportunidade, porque, infelizmente, não há vagas para todos em uma universidade.” Ela diz que durante a prova não houve problemas, pois sua sala não estava cheia. “Nossa sala estava bastante vazia porque faltou bastante gente. Mas lá fora não tinha fiscalização para distanciamento e uso de máscara”, contou.
Já Isabela Wynnek dos Santos de Souza, 18 anos, também de Irati, relatou que estava bem apreensiva em fazer a prova durante a pandemia e que isso se agravou ao ver que havia pouca fiscalização para o distanciamento.
“Eu achava que seria cancelada a prova para que pudéssemos fazer em um momento mais seguro. Fiquei muito apreensiva, pois acreditava que seria adiado por conta dessa nova onda do coronavírus. Normalmente, a gente, quando vai fazer qualquer prova, já fica bastante nervosa. E fazer neste momento da pandemia piorou o nervosismo. Quando cheguei, me direcionaram para a sala. Até chegar a tua sala, tinham filas no corredor com muitas pessoas aglomeradas. Na sala, não tinha uma marca ou faixa nas cadeiras para impedir que sentássemos um ao lado do outro. Foi mesmo pelo bom senso”, explicou a estudante.
:: Repórter do Brasil de Fato faz prova do Enem e conta o que viu ::
UPES entrará na Justiça
A União Paranaense dos Estudantes Secundaristas do Paraná (UPES-PR) acompanhou todo o dia de provas e recebeu as denúncias de irregularidades feitas pelos estudantes. “Desde o início, todas as entidades estudantis se posicionaram a favor do adiamento por considerarmos que os estudantes seriam colocados em risco. Foi uma irresponsabilidade do MEC colocar os estudantes nestas condições”, afirmou Taís Carvalho, presidente da UPES.
“O mais grave foi o MEC um dia antes informar que as salas não poderiam funcionar com mais de 50% da sua capacidade. Mas, o ensalamento já havia sido feito, sem essa informação. Tivemos vários alunos que não puderam fazer a prova por causa disso.” Thaís informou que a entidade abrirá um canal para coletar as denúncias para que possam entrar com medidas legais contra o MEC.
Participantes podem pedir reaplicação
Após relatos semelhantes aos coletados no Paraná terem sido divulgados em diferentes partes do Brasil, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirmou que o órgão vai analisar os relatos e que nenhum participante será prejudicado. A informação é que, através de atas dos locais de prova, será possível confrontar as queixas, que podem ser enviadas formalmente com o que foi registrado pelos fiscais de prova.
“Nenhum participante será prejudicado. Qualquer participante que se sentiu prejudicado, em qualquer lugar do Brasil, pode, a partir de 25 de janeiro, solicitar a reaplicação em 23 e 24 de fevereiro”, disse Lopes.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Camila Maciel e Lia Bianchini