Ele fazia, com muita sabedoria e humor, um tipo de palestra a que chamavam “aula espetáculo”
O grande escritor Ariano Suassuna, que morreu há poucos anos, e é conhecido do grande público por ter escrito O Auto da Compadecida, tinha umas particularidades.
Uma delas, contam, era a decisão de nunca viajar para o exterior. Viajava muito pelo Brasil, mas segundo dizem nunca saiu daqui.
Outra coisa era certa aversão a algumas tecnologias novas. Não sei se é verdade, mas me contaram que nunca usou computador, por exemplo. Escrevia sempre à mão ou numa velha máquina de escrever.
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Falando em não saber se isso é verdade ou não, ele gostava dos mentirosos. Defendia a mentira, quando ela não era para fazer mal a ninguém. Só mentiras ingênuas ou até bondosas.
Ele fazia, com muita sabedoria e humor, um tipo de palestra a que chamavam “aula espetáculo”. Fui a duas delas.
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Uma vez ele falou de um mentiroso de Pernambuco, que criava abelhas. Esse sujeito começou a ter tanto mel para vender que algumas pessoas estavam suspeitando que era mel falsificado. Mas ele explicou:
- Cruzei minhas abelhas com vagalumes, agora elas trabalham dia e noite.
E voltando a novidades que ele não gostava, uma era a televisão. Dizem que ele odiava essa coisa que o humorista Stanislaw Ponte Preta dizia que era a maior invenção feita a serviço da imbecilidade humana.
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Pois bem... Ariano Suassuna não gostava dela.
Uns amigos dele, só para provocar, pouco depois que a televisão chegou a Recife, mandaram um vendedor de aparelhos de TV tentar vender um para ele.
O vendedor foi de casa em casa na rua em que ele morava, vendendo televisores para todo mundo. Mas quando chegou ao Suassuna, ele não conseguia convencer o homem a comprar aquela coisa.
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Segundo consta, o vendedor, com sua psicologia de botequim, disse:
- Seu Ariano, esta rua tem 54 casas, quase todas com muitas crianças, e em todas compraram aparelho de televisão, só o senhor que não quer. Os seus filhos vão ficar com complexo de televisão.
O escritor respondeu:
- Olha... Aqui tem 54 casas, mas só eu tenho seriemas no quintal. Então as crianças das outras 53 casas vão ficar com complexo de seriema.
Edição: Leandro Melito