Você pode não conhecer o Kelvin Thiago, o Mil Grau, mas saiba que ele é uma figura popular no meio do futebol. Corintiano, ele alcançou a fama quando começou a frequentar os estádios atrás do clube paulista, sempre com uma câmera na mão, fazendo imagens do comportamento dos torcedores na arquibancada.
Kelvin é dono do canal Mil Grau 777, no Youtube, que está próximo da marca de 1 milhão de inscritos. Porém, recentemente, o influencer anunciou que abandonou o “personagem” Mil Grau, para tentar produzir conteúdos sobre outros temas, que não o Corinthians. Com o clube paulista, ficou uma mágoa.
Política é um dos assuntos que interessam a Kelvin, que nas redes sociais não esconde suas preferências. Para o corintiano, há uma incoerência no “torcedor de arquibancada” que se declara bolsonarista.
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“Quando eu vejo um mano de arquibancada chegar e falar que vota no Bolsonaro, a vontade que eu tenho é dar um tapa na cara dele com cinco dedos abertos e deixar a marca”, afirma Kelvin, que não poupa críticas ao presidente. “Ele é uma anta”.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato: Kelvin, como surgiu o Mil Grau?
Kelvin Thiago: Surgiu na época da escola, que eu fazia uns memes e mandava para uns amigos e eles pediam para colocar na internet. Na época, eu tinha um Tumblr que era ‘Futebol LoL”, aquela sigla que significa ‘rindo pra caralho’ em inglês. Na época eu pensei e criei o Corinthians Mil Grau. Aí eu criei e comecei a postar no Twitter. Aí, em uma semana eu já tinha 300 seguidores, duas semanas depois, eu já estava com 10 mil e no final do ano, 100 mil. Logo depois, começaram a surgir outras páginas.
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Recentemente, você anunciou uma mudança na sua trajetória. O que aconteceu?
Na verdade, é uma mudança de posicionamento na internet, como produtor de conteúdo. Acho que eu perdi uns 20 mil seguidores, porque a galera reclamou que eu deixei de fazer conteúdo do Corinthians. Mas nada mudou, eu estou aqui com a camisa do Corinthians, as tatuagens do Corinthians continuam aqui e vou continuar a ir nos jogos. A única coisa que mudou, é o posicionamento, não vou falar só sobre o Corinthians, isso me limita muito. Mas rola uma mágoa, porque o Corinthians nunca olhou para o cara que fez por amor.
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As redes sociais se tornaram um espaço voraz, em que a fronteira do ódio e do amor é muito estreita. Mas isso não te impede de se posicionar, você não deixa de expor, por exemplo, suas opiniões políticas.
Na questão de se posicionar, eu sempre fui um cara que se posicionou, sempre falei as coisas e sofro consequências. Recentemente, teve um jogo do Bolsonaro, ele jogou na Vila Belmiro (estádio do Santos) e fez um gol. Aí, eu postei uma foto do Lula, todo paquitão, ao lado do Sócrates, aquela marra. Ao lado, a foto do Bolsonaro caído, e a legenda era: ‘Chora na cama que é quentinho’. Eu perdi 10 mil seguidores em duas horas. Perdi não, ganhei em qualidade e perdi em quantidade. Mas nem sempre a galera que me segue eu quero que me siga.
O que você acha das torcidas antifascistas?
Eu sou super a favor e eu sou do movimento e estou com eles. É a torcida do Corinthians que sempre puxa esse bonde, né? Obviamente tem a torcida antifascista do Palmeiras, tinha uma galera do Santos, que também se posiciona positivamente. Eu parto dos mesmos princípios dos caras, se não, não sobreviveria dois meses na arquibancada. A cultura da arquibancada é dessa forma e querendo, ou não, a arquibancada é da torcida organizada, o resto está lá para apreciar a festa.
Então, é incoerente que esse torcedor de arquibancada seja de direita?
Na minha percepção, sim. Mas eu não julgo, cada um tem sua opinião e não podemos ser radicais. Quando eu vejo um mano de arquibancada chegar e falar que vota no Bolsonaro, a vontade que eu tenho é dar um tapa na cara dele com cinco dedos abertos e deixar a marca.
Qual sua opinião sobre o Bolsonaro?
Antes dele ser eleito, a gente já sabia que ele era uma anta. Obviamente, quando ele foi eleito, ficamos decepcionados, mas quando você está no avião e não gosta do piloto, você não vai torcer para o avião cair, era torcer para o cara fazer um governo bom. Querendo ou não, estamos vivendo um desgoverno, o cara é uma anta. Esperamos que nas próximas eleições, a galera escolha uma pessoa mais capacitada.
Durante a pandemia, várias torcidas foram até os aeroportos e estádios, aglomeraram, para apoiar o clube. Você concorda?
Eu estou do lado da galera que aglomera e vai para frente do estádio e foda-se. A galera que está na internet digitando ‘fica em casa’, você pode ficar em casa, querida. Mas a gente mora no Brasil, no mesmo momento em que você está digitando ‘fica em casa’, tem milhares de trabalhadores aglomerados no metrô, então assim, a gente mora no Brasil, não tem o que fazer. A partir do momento que vivemos num desgoverno e nem nosso presidente olha por nós, esqueça tudo, não tem o que fazer.
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Você, que frequenta estádio, acha que houve uma mudança no público? Houve uma elitização da torcida nos estádio?
No treino aberto, geralmente quem vai é o cara que fica meses e meses longe do estádio, porque não tem condições (financeiras), é um público diferente e apaixonado. É um cara que vive embaixo do iceberg, que é um mundo gigantesco de torcedores que não têm oportunidade de colar. O povo tá lá. O boy tá na casa dele, vendo o treino pela TV, com seu pão de queijo e sua cervejinha. Hoje em dia, somos consumidores e não torcedores.