O Instituto Butantan, em São Paulo, foi o responsável pela produção da primeira vacina contra covid-19 aplicada no Brasil. A Coronavac, fabricada em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, é a conquista mais recente de uma instituição que atende as demandas de saúde pública do país desde 1901.
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Nesses 120 anos de história, soros e vacinas produzidos no Butantan foram decisivos para o aumento da expectativa de vida no Brasil e para o combate a doenças que hoje estão praticamente erradicadas.
O Brasil de Fato fez uma retrospectiva dessa trajetória e levantou algumas das principais contribuições da instituição para o país.
Confira a linha do tempo:
1901: A produção de soros antiofídicos, usados contra veneno de cobras, é uma das marcas do Instituto Butantan desde sua fundação. Os primeiros foram o anticrotálico, para combater o veneno de diversas espécies de cascavel, o antibotrópico, contra veneno de jararaca. No mesmo ano, também começou a produção de soros e vacinas antipestosas, contra a peste bubônica, transmitida por roedores.
1906: Soro antidiftérico, para combater a difteria.
1911-1915: Soro antielapíneo, para combater o veneno de diversas espécies de cobra coral, e início da produção de soro antitetânico.
1916: Soros para combate ao tifo e à desinteria, e contra picadas de escorpião.
1917: Início da produção de soro, a partir de ovelhas e cabras, para tratamento de distúrbios menstruais.
1918-1919: Em plena pandemia de gripe espanhola, que matou entre 20 e 40 milhões de pessoas em todo o planeta, o Instituto Butantan oferecia, por meio de parceria com a Casa Armbrust, medicamentos para combater a gripe. Em 1918, também foi desenvolvida uma vacina contra a gonorreia, infecção sexualmente transmissível.
1920: Vacinas contra a meningite.
1921-1925: Sete vacinas polivalentes contra diversas doenças bacterianas e vacinas contra a hanseníase e a varíola.
1926: Vacina BCG, contra a tuberculose, e soro para combater veneno de aracnídeos.
1927-1928: Vacina TAB, contra a febre tifoide, vacina contra a difteria e soro para combate à escarlatina.
1932: Vacina tífica-desintérica injetável e soro contra a coqueluche.
1939-1944: Vacina contra a Febre Maculosa Brasileira (FMB) e novas vacinas combinadas contra tifo, paratifo e desinteria.
1949-1953: Vacinas contra a raiva e contra a febre amarela.
1970-1972: Vacinas contra cólera e sarampo. Modernização da vacina BCG de 1926, aumentando a estabilidade do produto e facilitando o transporte e armazenamento.
1973: Início do programa Nacional de Imunização (PNI), considerado um dos maiores do mundo. O Butantan fornece de 60 a 80% dos imunobiológicos para este programa.
1980-1984: Soros trivalente e polivalente contra veneno de aracnídeos.
1996: Soro antilonômico, usado no tratamento de acidentados com taturana oblíqua.
1999: Vacina contra a hepatite B.
2002: Vacina contra a influenza (gripe), por meio de parceria para transferência tecnológica com a Sanofi Pasteur.
2009: Vacina Influenza Trivalente, contra o vírus H1N1, causador da gripe suína, e outros dois tipos de gripe.
2013: Butantan inicia processo de transferência tecnológica para produção de vacina contra o HPV, o que permitirá a autossuficiência brasileira na produção desse imunizante.
2016: Início de desenvolvimento da vacina contra a dengue, em parceria com um dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH).
2020: Vacina contra a covid-19, em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Disputa política
Em resposta ao negacionismo e à propaganda antivacina difundida por Jair Bolsonaro (sem partido), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tem buscado capitalizar os logros do Butantan no desenvolvimento da Coronavac.
O tucano posou ao lado da primeira brasileira vacinada contra a covid-19, no último domingo (17), e chorou diante das câmeras.
Apesar da propaganda com objetivos políticos, cerca de 60% do financiamento do Butantan vem do governo federal. O Ministério da Saúde é o maior comprador de imunizantes e soros, além de manter outros convênios.
"Os repasses do estado vêm se reduzindo ao longo dos governos do PSDB em São Paulo", alertou na semana passada o ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP).
"É uma política de asfixia do desenvolvimento tecnológico. O governo Dilma Rousseff, enquanto o governo estadual [então de Geraldo Alckmin, do PSDB] asfixiava o orçamento do Butantan, aumentava a participação da União. Hoje, a asfixia pelo governo do PSDB continua", ressaltou Padilha.
Em três oportunidades, ao longo de 2020, Doria tentou reduzir o investimento do estado em ciência e tecnologia, mas recuou após pressão da comunidade científica e da oposição.
Além dos soros e vacinas mencionados nesta matéria, o Butantan desenvolve estudos e pesquisa básica nas áreas de biologia e de biomedicina e realiza missões científicas no país e no exterior por meio das Organizações Mundial e Panamericana da Saúde (OMS e Opas), Organização das Nações Unidas (ONU) e Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas (Unicef).
O instituto desenvolve ainda projetos de pesquisas básica e aplicada, tais como estudos sobre animais peçonhentos, agentes patogênicos, inovação e modernização dos processos de produção e controle de imunobiológicos, além de estudos clínicos, terapêuticos e epidemiológicos relacionados a acidentes causados por animais peçonhentos.
Quatro museus também são administrados pelo Butantan, que é responsável por atividades educacionais e de pesquisa: Museu Biológico, Museu Histórico, Museu de Microbiologia e Museu de Saúde Pública Emílio Ribas.
O instituto também capacita estudantes por meio de estágios em nível de iniciação científica e possui programas de especialização, mestrado, doutorado e cursos de curta duração na área da saúde.
No MBA Gestão da Inovação em Saúde, o instituto compartilha conhecimentos sobre todas as etapas e processos existentes entre pesquisa, inovação, patenteamento, produção e comercialização de produtos.
Edição: Leandro Melito