Categoria rachada

Caminhoneiros pró-Bolsonaro usam WhatsApp para tentar frear greve: “Intervenção já"

Usado para mobilizar a categoria na paralisação de 2018, aplicativo vira palco de briga entre grevistas e governistas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Caminhoneiro pede que Exército intervenha no país - Foto: Reprodução

Ferramenta usada pelos caminhoneiros para articular a greve da categoria em 2018, os grupos de WhatsApp estão divididos sobre a paralisação desta segunda-feira (1). De um lado, grevistas querem organizar a categoria e marcar pontos de encontro. Do outro, apoiadores do governo Bolsonaro tentam frear o movimento.

Nos grupos, Jair Bolsonaro (sem partido) se tornou um alvo fácil. Um deles mudou seu título para “Fora Bolsonaro”. É fácil encontrar ataques ao presidente nas conversas dos condutores. “Traidor” é o adjetivo mais comum. Parte da categoria considera que o mandatário usou os caminhoneiros para se eleger, mas que os abandonou depois que chegou ao Palácio do Planalto.

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Ministro da Infraestrutura

No último domingo (31), vazou um suposto áudio do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em que o chefe da pasta tenta convencer lideranças da categoria a não aderirem à paralisação. Na gravação, o chefe da pasta ataca o movimento.

“Esse tipo de movimento é errático. Achar que tem que fazer uma paralisação para conversar? Esquece. Na verdade, a paralisação fecha portas. Enquanto tiver paralisação, eu não com ninguém”, afirmou Freitas, ministro de Bolsonaro, que foi eleito apoiando a greve de 2018 feita pelos caminhoneiros.

Em nota ao site UOL, o Ministério da Infraestrutura afirmou que o ministro conversou com um representante da categoria por telefone e sustentou ao site seu posicionamento sobre não negociar com o movimento grevista.

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Ataques

No grupo “Caminhoneiros Patriotas”, no WhatsApp, alguns condutores atacam a paralisação, e um dos membros afirma que os grevistas são “baderneiros”. “Intervenção já! Bora galera. Bora pedir intervenção, pôr os militares para organizar esse país”, afirma o caminhoneiro com prefixo de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Criado para organizar a categoria durante o dia, o grupo “Greve 01/02”, que está com 251 membros, se tornou palco para o embate. Entre vídeos que mostram caminhões interrompendo o fluxo de rodovias, integrantes questionaram os condutores: “Vocês acham que os caminhoneiros decentes desse país aprovam esta merda que vocês estão fazendo, marginais pilantras?”

Outro caminhoneiro pediu sua remoção. “Tudo que o governo quer é desestruturar a greve. Aí, tem uns maus-caracteres que entram no grupo só para fazer isso”, afirmou o integrante do grupo.

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Impostos

Na última quarta-feira (27), Bolsonaro afirmou que pretendia reduzir as alíquotas de PIS e Cofins do óleo diesel para compensar o aumento do preço da gasolina. Mas, às vésperas da greve, enviou um recado aos governadores.

“Os impostos federais [PIS/Cofins], estamos prontos para zerar. A gente vai para o sacrifício, mas gostaria que o ICMS acompanhasse essa diminuição”, explicou Bolsonaro, lembrando do imposto estadual.

Posições

Em outro grupo, o “Greve dos Caminhoneiros”, também criado nesta segunda-feira para articular o movimento, um condutor lembrou da fala do presidente. “Essa greve está mais política. Fazia tempo que eu não via tanto caminhão rodando como nesse mês passado. Eu concordo que os preços estão altos, mas o presidente já disse que, se os governadores baixarem o ICMS, ele zera os impostos. Então, no meu ponto de vista, tem que cobrar os governadores”, aponta o condutor.

Por áudio, um condutor respondeu. “Está na nossa cara. Se não fizermos justiça com nossas mãos, não vai acontecer nada. Já foi feito em 2018 e não adiantou nada. Vários políticos fizeram promessa, já ganhou, já está comandando e até agora nada. Quem movimenta o país é a gente. Enfim, sabemos da sofrência da nossa categoria, se a gente não for pra cima…”, encerrou.

Edição: Camila Maciel