Nestes tempos de quarentena, ando saudoso de bares que funcionavam de madrugada
Nestes tempos de quarentena, ando saudoso de bares que funcionavam de madrugada.
Nos tempos em que eu viajava bastante pelo interior do Brasil, conheci, principalmente em pequenas cidades da Bahia, bares que ficavam abertos 24 horas por dia. Eram chamados de “Sem Porta”.
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Com pouco dinheiro, pegava uns hoteizinhos bem baratos. Naquele calor, lá pelas duas ou três da madrugada, acordava com sede, e aproveitava para dar uma espichada até um “Sem Porta”, onde sempre encontrava cerveja barata e gente de bom papo.
Em São Paulo, quando morava no centro da cidade, um amigo me levou a um bar chamado Cipó, mas era chamado de “escritório”. Abria às 9 horas da noite e fechava pouco depois de amanhecer.
Esse não era barato, mas também não tão caro. Tanto que dava pra eu ir lá de vez em quando.
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Na minha terra, Nova Resende, que na época tinha uns três mil habitantes, tinha no centro da cidade um bar desses que abria só a noite, o “Inferninho”
Era barato e frequentado só por homens. E depois de algumas cachaças uns deles ficavam meio valentes. Arrumavam briga e o dono mandava alguém chamar a polícia. A delegacia ficava a menos de cem metros de distância, e a polícia, composta por um cabo e dois soldados, ia lá e levava o brigão para a cadeia, onde ficava até passar o efeito do álcool.
Numa dessas, a briga foi maior. A polícia levou alguns brigões, sem resistência.
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Um rapaz do grupo, apelidado Paca, não foi levado. Era trabalhador e não tinha o hábito de beber e brigar. Mas ele não gostou disso. Reclamou com o dono do bar:
- Todo mundo preso, só eu que não. O que a turma vai pensar de mim? Vão achar que "tô de culeio" com a polícia.
Foi à delegacia, bateu na porta e foi atendido pelo cabo. Falou:
- Ô, seu Firmino. Eu também tava na briga e acho que tenho que ser preso também. Peço só que o senhor me solte às três da manhã, que é a hora que eu vou pro trabalho na padaria.
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O cabo respondeu:
- Se quiser ser preso, eu te prendo. Mas só te solto com os outros, às oito da manhã.
Ele chiou:
- Mas eu tenho que fazer pão... me solta mais cedo.
E começaram uma negociação. O cabo disse que podia soltar às sete, ele propôs que fosse às quatro... negociaram até que entrarem num acordo, e o Paca saiu às 5 da manhã.
O pão saiu meio atrasado naquele dia, mas o Paca estava com a honra garantida.
Edição: Daniel Lamir