Oficiais do Estado indiano deixaram a sede do Newsclick, veículo indiano de jornalismo independente, nesta quarta-feira (10), mais de 40 horas após invadirem o escritório na capital Nova Delhi com o pretexto de investigar um suposto caso de crime financeiro.
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Entre os profissionais que ficaram retidos com oficiais do Estado indiano em suas residências ou na sede do veículo de imprensa, sem nenhum tipo de acusação formal, estavam o editor-chefe Prabir Purkayastha, o editor Pranjal, a colunista Bappa Sinha e o responsável pelos recursos humanos e jornalista Amit Chakraborty.
Purkayastha, que tem mais de 70 anos e integra o grupo de risco da covid-19, está em casa e continua monitorado de perto por oficiais do Ministério de Finanças (Enforcement Directorate).
O Newsclick é um portal de jornalismo independente que se consolidou como referência na cobertura dos protestos de camponeses indianos contra as políticas do atual primeiro-ministro, Narendra Modi. Em plena pandemia, o governo fez uma série de alterações na legislação que desprotegem os pequenos produtores, favorecem grandes empresas do agronegócio e ameaçam a segurança alimentar da população.
Confira como vem ocorrendo os protestos de milhares de camponeses na Índia:
O portal também produz reportagens investigativas sobre grandes empresas, como o grupo Adani, que entrou com a ação por difamação no ano passado contra o Newsclick e é um dos maiores beneficiários das mudanças nas leis agrícolas.
O governo Modi representa o chamado nacionalismo hindu e tem sido criticado por promover perseguições religiosas e cortes de direitos de trabalhadores, além de reprimir opositores.
O assédio ao Newsclick ocorre em meio a uma série de incidentes em que jornalistas têm sido autuados de acordo com cláusulas da Lei de Prevenção de Atividades Ilícitas (UAPA) e até da Segurança Nacional.
“A verdade prevalecerá. Temos plena fé no sistema legal”, pronunciou-se o veículo logo após as detenções, acrescentando que um comunicado completo sobre o ocorrido será divulgado somente após o término do processo.
De acordo com notícias divulgadas na imprensa, a agência de investigação do Ministério de Finanças, que é responsável por lidar com fraudes econômicas, invadiu a organização de mídia e residências de seus responsáveis com a justificativa de investigar um caso de lavagem de dinheiro.
O Sindicato dos Jornalistas de Delhi emitiu uma declaração condenando o ataque, chamando-o de “sinistro”.
Além de órgãos de imprensa e partidos de oposição indianos, o Brasil de Fato e outros seis projetos de mídia independente internacionais também se manifestaram em solidariedade ao Newsclick: ARG Medios, da Argentina; New Frame, da África do Sul; BreakThrough News, dos Estados Unidos; Pan African Television, de Gana; e The Insight Newspaper, de Gana.
“Nós, um grupo de publicações de todo o mundo, nos unimos contra o assédio ao Newsclick, portal de notícias indiano. A detenção de seus editores e a difamação de sua reputação na imprensa é um movimento calculado para intimidar a cobertura da revolta dos camponeses e outras lutas de massa que estão ocorrendo na Índia”, diz o texto assinado por jornalistas desses veículos.
Matéria atualizada às 15h10 do dia 10 de fevereiro de 2021.
Edição: Rogério Jordão