Todo país possui sua festa oficial. Para nós, brasileiros, a celebração que acontece em todo território, é o carnaval. Momento de alegria, liberdade e inversão de papéis.
Mas o que sabemos sobre a história dessa festa tão familiar? Que diferentes expressões ganharam no país e qual sua importância para pensar o Brasil hoje?
Apesar da dimensão pagã na atualidade, o carnaval tem origem nos ritos de passagem do calendário cristão.
Por estar na semana que antecede a quaresma - período de jejum e disciplina -, ele seria o momento de celebrar os excessos do corpo.
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No Brasil, as primeiras manifestações foram do entrudo, uma festa espontânea, importada de Portugal, em que os grupos marginalizados, principalmente negros escravizados, saíam às ruas para brincar e sujar as pessoas.
Para Roberto DaMatta, um dos principais estudiosos do tema do país, aí já ocorria o que se tornou uma das principais marcas do carnaval brasileiro: a vontade de subversão de um sistema hierárquico, fortemente pautado pela escravidão.
"É um ritual de inversão, que vira de cabeça pra baixo a sociedade. E quando você tem a possibilidade de uma igualdade radical, uma igualdade humana, a igualdade de festejar e de ser feliz. Então, a gente é feliz por três, quarto dias e depois volta a dureza da vida", comenta DaMatta
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Considerado muito brutal pelas elites, a folia de rua passou a ser censurada e duramente reprimida. Foi quando ganharam espaço os desfiles de carnaval, - organizados pelo poder público-, e os bailes luxuosos em clubes fechados, inspirados nas festas principalmente de Nice e Paris, na França.
Porém, a alegria e vontade de subversão continuaram acontecendo, mesmo que às margens. Em Salvador, na Bahia, os blocos criados a partir da cultura ancestral africana, que deram origem ao afoxé, são exemplos claros dessa resistência.
No Recife, Pernambuco, o frevo criado a partir da mistura com outra prática censurada, a capoeira, também foi marca da persistência do carnaval livre e popular.
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Uma das mantenedoras dessa tradição é Gabriela Lima de Carvalho, passista de frevo e integrante do grupo Arte e Folia, que trabalha com estudo de cultura popular em Recife.
Ela acredita além de um dos principais marcos identitários do país, que o Carnaval continua sendo uma das melhores maneiras de que organizar a alegria e combater a opressão, principalmente frente aos desafios de hoje.
"Esse é um lugar político, né? De subverter mesmo, de resistência. Porque a alegra é necessária. Precisamos da alegria para poder sobreviver. Então, para para mim isso é o frevo. Essa forma de poder se organizar diante toda essa opressão contra o povo negro, o povo indígena, as mulheres, a todos os LGBTQI+", afirma a passista.
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Roberto DaMatta concorda. Para ele, não há nada mais potente do que a alegria e o riso dos marginalizados, contra aqueles que violentam e oprimem.
"Não tem nada mais sério neste mundo do que os rituais nazistas e fascistas. Absolutamente é sincronizado, aquela massa humana funcionando como engrenagem de guerra. O carnaval é exatamente o oposto. O fascista não aguenta o riso", finaliza o antropólogo.
Edição: Douglas Matos