durante gestação

Bebês podem ser imunizados contra covid-19 ainda no útero, apontam pesquisas

Estudos indicam que anticorpos podem ser passados pela placenta das mães que se vacinaram ou tiveram a doença

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Anticorpos conta covid-19 foram identificados em recém-nascidos - Fotos públicas

Dois estudos publicados recentemente aumentam a percepção da ciência de que bebês podem ser imunizados contra covid-19 ainda no útero. Os resultados apontam transferência de anticorpos para os filhos por mulheres que foram infectadas ou vacinadas.

Pesquisadores identificaram a proteção em mais de 70 recém-nascidos, em um trabalho realizado no Hospital Pennsylvania, na Filadélfia (Estados Unidos). As mães foram infectadas pela covid-19 durante a gravidez. No grupo havia assintomáticas e pacientes com sinais leves, moderados e graves.

Na mesma linha, estudiosos da Universidade da Flórida relataram o caso de uma enfermeira grávida que foi vacinada contra covid-19 e transferiu a imunidade para o bebê. Os anticorpos foram encontrados no cordão umbilical. Ela recebeu a dose da vacina três semanas antes do parto.

O estudo da Filadéfia identificou a presença, na placenta, de anticorpos de longa duração, que se desenvolvem ao fim da infecção e permanecem mais tempo no organismo. No total, foram observadas 83 mulheres contaminadas.

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Tempo entre a contaminação e o parto

Nas mães em que foram detectados apenas os anticorpos presentes no organismo no início da doença, as crianças não desenvolveram a imunidade. Quanto maior o tempo entre a contaminação e o parto, maior a proteção registrada.

O presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, explica que os anticorpos da fase aguda são muito grandes e não passam pela placenta, ao contrário dos que se desenvolvem posteriormente.

"Aquelas mães que tiveram covid, que já se recuperaram, que já produziram esses anticorpos de imunidade longa, esses sim passam pela barreira placentária e podem proteger o bebê nas primeiras semanas de vida. É uma boa notícia, há sim passagem de anticorpos protetores", comemora.

Melhor momento para vacinar gestantes

Todos esses detalhes podem ajudar a ciência a entender qual é o melhor período para vacinar mulheres grávidas e indicam também que as chances de a mãe passar covid-19 para o bebê são pequenas. 

"Do mesmo jeito que a infecção natural na grávida transfere a proteção ao bebê, o raciocínio para as vacinas deem seguir por essa linha. É muito importante a gente ter esses estudos para garantir a seguranças dessas vacinas, porque proteger, a gente sabe que protege", afirma Renato Kfouri.

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Procedimento comum

Diversas vacinas que já existem são aplicadas nas mães com o intuito de também proteger o bebê. Nessa lista estão os imunizantes contra o tétano, a coqueluche, a hepatite b e a gripe, já que as grávidas podem evoluir mal para a H1N1 e o bebê só pode ser imunizado aos seis meses de idade.

Presidente da Comissão Nacional Especializada em Vacinas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, a médica Cecilia Roteli Martins afirma que ainda não há estudos finalizados sobre a vacina contra a covid em grávidas, mas que, para gestantes em grupos de risco, é preciso pesar a necessidade de imunização.

"Entre os grupos de risco já escolhidos, eventualmente vão ter mulheres que estão gestantes e que estão expostas ao risco da infecção. Como as vacinas que foram aprovadas pela Anvisa são de tecnologias conhecidas, tem que ser avaliado o risco de não ter estudos com o benefício da proteção e o risco de adquirir a doença", explica.

Ainda de acordo com a médica, as respostas sobre a imunização de grávidas contra a covid estão cada vez mais próximas. "As evidências vão se acumulando. A partir de muito em breve, nós vamos ter indicação de vacinar as gestantes contra a covid-19 com vacinas seguras", afirma.  

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho