A gente fez a propaganda da campanha na base da cartolina
Na mesma semana em que o Brasil completou um mês do início da campanha de vacinação contra a covid -19, a falta de doses começou a travar a imunização em diversas cidades.
Entre as capitais, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador já anunciaram a interrupção do processo. Outros municípios tentam adequar o planejamento às doses restantes e estão pausando a aplicação para determinados grupos.
Já na segunda-feira (15), a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro anunciou que a vacinação iria ser paralisada a partir da quarta (17). A segunda dose para quem já tomou a primeira está garantida, mas o resto do cronograma ficará parado até que as vacinas cheguem.
O temor de um efeito dominó e a previsão de que o problema iria se ampliar, reforçou as cobranças ao governo federal. Na terça-feira (16), a Confederação Nacional dos Prefeitos (CNM) divulgou uma carta pública pedindo a troca do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
No texto, a entidade afirma que o general tem postura passiva diante do problema e que ele “não acreditou na vacinação como saída para a crise e não realizou o planejamento necessário”.
Ainda de acordo com a carta, as iniciativas adotadas ocorreram como “reação à pressão política e social, sem qualquer cronograma de distribuição para estados e municípios".
No mesmo dia, a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) também soltou uma nota afirmando que “os sucessivos equívocos do governo federal” são responsáveis pela “escassez” de vacinas.
A FNP cobrou cronograma com prazos e metas para a vacinação de cada grupo, “disso depende, inclusive, a retomada da economia”, alertou a entidade.
Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, a residente em medicina de família e comunidade Fernanda Americano Freitas Silva, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o governo já vinha contribuindo para o andamento ruim da campanha com a postura negacionista de Jair Bolsonaro.
A médica relata que a campanha está prejudicada em todo os níveis. A falta de doses se soma à falta de incentivo e informações para a população se vacinar.
"Hoje a gente está vivendo uma campanha de vacinação sem propaganda ou estímulo por parte do governo. Eu dou o exemplo da unidade em que eu trabalho, a gente fez a nossa propaganda na base da cartolina."
Onde parou
Foi também na terça-feira (16) que Cuiabá e Salvador interromperam a imunização. Outros municípios de Mato Grosso informaram que os estoques estavam perto do fim. O problema atinge Rondonópolis, Cáceres, Sinop e Barra do Garças.
No Rio Grande do Sul, cidades da região metropolitana de Porto Alegre também anunciaram que a campanha seria suspensa por falta de doses, seguindo o movimento dos municípios de Guaíba, Cachoeirinha e Montenegro.
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Na quarta-feira (17), a capital gaúcha limitou os locais de vacinação. Porto Alegre segue vacinando idosos acima de 83 anos, mas ainda não tem doses para dar continuidade ao processo para outras idades.
No Maranhão, a prefeitura de São Luís também fechou locais de vacinação e informou que o funcionamento só será retomado a partir da chegada de novas doses.
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Diariamente, o número de cidades que ampliam a lista de locais com a vacinação comprometida passou a se ampliar. No estado de São Paulo, Sumaré, Paulínia e São José dos Campos acenderam o alerta. No Rio de Janeiro, São Gonçalo e Caxias estão na mesma situação.
Resposta
A tentativa de amenizar os ânimos dos prefeitos partiu do Ministério da Saúde também na quarta-feira (17). Contando com vacinas ainda não autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a pasta prometeu 230 milhões de doses até julho.
"A gente não pode esquecer que, no momento, a gente é dependente do ritmo de importação da China e da Índia, isso afeta a capacidade de produção dos únicos institutos que produzem vacina no Brasil, o Butantan e a Fiocruz", alerta a médica Fernanda Americano Freitas Silva.
A notícia foi dada pelo próprio ministro Pazuello em uma reunião com governadores. Horas depois, o ministério confirmou a informação e ressaltou que o planejamento prevê a vacina russa Sputnik V e a indiana Covaxin.
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A primeira ainda não é considerada em testes no Brasil pela Anvisa e a segunda nem mesmo fez o pedido de autorização para uso emergencial. Para a médica, há solução para o desafio e ainda dá tempo de retomar o rumo.
"Além de lidar com essa crise da vacina, a gente está enfrentando novo aumento de casos no Brasil, então os esforços precisam estar voltados ao que interessa. Resumindo: vacina, propaganda vacinal, leito de UTI, leito de enfermaria, suporte avançado e valorização dos profissinais da linha de frente".
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Edição: Leandro Melito