A apuração oficial dos resultados das eleições presidenciais no Equador alcançou 100% das urnas na noite desta sexta-feira (19) e coloca os candidatos Andrés Arauz, da coalizão progressista União Pela Esperança (Unes), e Guillermo Lasso, do partido de direita Movimento CREO, no segundo turno, que será realizado no dia 11 de abril.
Entretanto, devido à estreita diferença entre o segundo e o terceiro colocados - Lasso e Yaku Pérez, respectivamente - o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) deve anunciar os resultados apenas neste final de semana e disse que já espera recursos e pedidos de recontagem.
Com todas as urnas apuradas, Arauz obteve 32,72% dos votos, se confirmando como vencedor do primeiro turno. Lasso, por sua vez, teve 19,74%, enquanto Yaku Pérez recebeu 19,38%.
Candidato pelo partido indígena Pachakutik, Pérez chegou a liderar a disputa pela segunda vaga em momentos da apuração, mas perdeu a vantagem para Lasso na última semana.
Os dois candidatos também chegaram a fazer um acordo que previa a recontagem de votos em algumas províncias do país, mas o pacto foi abandonado por Lasso dias depois.
Mesmo sem apresentar provas, Pérez segue dizendo que houve fraude nas eleições e pede recontagem. Um pedido para repetir a apuração no país feito pelo candidato já foi negado pelo CNE na última quarta-feira (17).
Andrés Arauz, candidato de esquerda apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa, foi o único que esteve confirmado no segundo turno desde que a apuração iniciou.
O economista, o empresário e o líder indígena
Apesar de muito jovem, Andrés Arauz tem uma vasta formação acadêmica e já ocupou diversos cargos no governo de Correa. Formado em economia pela Universidade de Michigan, tem mestrado em economia do desenvolvimento pela Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO-Equador), e também é PhD em Economia Financeira pela Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
Arauz foi diretor do Banco Central do Equador em 2009, quando tinha 26 anos de idade. Também serviu como ministro do Conhecimento e Talento Humano e ministro da Cultura durante o governo de Correa.
Durante a campanha, o candidato da Unes prometeu reverter as políticas neoliberais de Moreno, criar bônus para trabalhadores afetados durante a pandemia, apostar na industrialização e, no âmbito internacional, resgatar organismos como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), progressivamente abandonadas pelos governos de direita da região.
O segundo colocado é Guillermo Lasso, um empresário de 65 anos que é acionista do Banco Guayaquil e concorre à Presidência pela coalizão de direita chamada Movimiento Creando Oportunidades, ou Movimento CREO.
Disputando pela terceira vez a presidência do país, Lasso foi derrotado pelo atual presidente Lenín Moreno no pleito de 2017, mas se aproximou do governo após a guinada neoliberal do mandatário.
Lasso chegou a ser ministro da Economia do país em 1999, quando ocupou o cargo por um mês durante o episódio conhecido como Feriado Bancário, que congelou as contas de milhões de equatorianos, desvalorizou a então moeda nacional e provocou a dolarização da economia. O período foi reconhecido como uma das piores crises financeiras do país.
O candidato da direita é acusado de ter aumentado seu patrimônio em milhões de dólares por especulações financeiras durante o período. Além disso, Lasso aparece no vazamento dos Panama Papers como dono de 49 empresas offshores.
Yaku Pérez é considerado uma surpresa nessas eleições. Candidato pelo partido Pachakutik, ligado ao movimento indígena CONAIE, ele realizou sua campanha marcado pelas jornadas de protestos que ocorreram em 2019.
O presidenciável aposta em um programa ligado às pautas ecológicas, ao combate à mineração ilegal e à preservação ambiental dos recursos naturais do país. Entretanto, analistas políticos apontam semelhanças entre seu programa e o de Lasso, em pontos como o fim dos impostos sobre saída de capitais.
Além disso, Pérez é criticado por ter negociado com Lenín Moreno durante as manifestações de 2019, apoiado o golpe de 2019 na Bolívia e a prisão de Lula, no Brasil.