Feijão, mandioca, arroz, mel, banana, abóbora e milho verde fizeram parte da diversidade de alimentos da reforma agrária doados a cerca de 280 famílias urbanas, no sábado (20), em Quedos do Iguaçu, região central do Paraná. As mais de 2,8 toneladas foram partilhadas por produtores do acampamento Dom Tomás Balduíno e do assentamento Celso Furtado, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
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“É um ato de coração que nós da família MST temos como meta de trazer pra cidade a alimentação saudável, mandioca, arroz, feijão, colhidos da roça. Não estamos doando porque está sobrando, doamos o que temos, repartimos o que temos”, explicou Josué Antonio Novacoski, acampado na comunidade Dom Tomás Balduíno, que contribuiu para a organização da atividade.
A iniciativa se soma à campanha de solidariedade do MST com as pessoas que enfrentam dificuldade de garantir a comida na mesa neste período de pandemia e de falta de soluções para a crise por parte do governo Bolsonaro.
Desde março do ano passado, 510 toneladas de alimentos da Reforma Agrária foram doadas por famílias do MST do Paraná. Ao todo, foram cerca de 80 doações diretas, envolvendo cerca de 170 acampamentos e assentamentos. Mais de 40 mil marmitas também foram doadas pelo MST em Curitiba e região, desde maio de 2020.
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“Diante da situação que o país passa com a pandemia, nós vemos a necessidade de repartir o alimento com as pessoas mais pobres da periferia da cidade. O maior agravante hoje é que o auxílio [emergencial] que o povo recebia foi cortado, e se agravou muito mais a situação do povo carente”, reforça Josué.
As comunidades que se uniram para doar esses alimentos já haviam se mobilizado em ações de solidariedade em 2020. A mais expressiva delas ocorreu no Dia da Agricultura Familiar, quando cerca de 80 toneladas foram partilhadas em um único dia.
A próxima doação prevista no Paraná será em Ponta Grossa, no dia 27, com participação de acampamentos e assentamentos da região.
Terras griladas se tornaram áreas da Reforma Agrária
As duas comunidades estão em áreas antes dominadas pela madeireira Giacomet Marodin, atual Araupel. A área onde antes só havia monocultivo de pinus, hoje é local de moradia e qualidade de vida para milhares de famílias.
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A empresa adquiriu 83 mil hectares de terras públicas da região de forma grilada em 1972. Para denunciar e cobrar reforma agrária nas áreas griladas pela empresa, três mil famílias Sem Terra ocuparam parte do latifúndio em 17 de abril de 1996, em Rio Bonito do Iguaçu.
Em agosto de 1997, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) formalizou a criação do assentamento o Ireno Alves dos Santos, com 900 famílias, o maior do Brasil até 2002, quando foi criado em Quedas do Iguaçu o assentamento Celso Furtado, com 1.200 famílias, comunidade que atualmente se une para doar alimentos. Nos anos seguintes, novos acampamentos e assentamentos foram criados na região, como a comunidade Dom Tomás Balduíno, iniciada em 2015 e atualmente com mais de mil famílias.
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Em agosto de 2017, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) declarou nulos os títulos de propriedade da madeireira Araupel ocupada pelo MST, confirmando a prática de grilagem. A determinação resultou de uma ação judicial movida pelo Incra, em 2014. Há dez anos, o Instituto contestava a validade dos títulos do imóvel localizado entre os municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini