“Esta é a última semana de fevereiro, e o governo precisa com urgência assinar o contrato de vacinas já ofertadas”. O alerta é do médico infectologista, ex-ministro da Saúde e atual deputado federal (PT-SP) Alexandre Padilha.
“Printem o que estou dizendo: ou reage-se esta semana, ou teremos um março de covid-19 aterrorizador”, afirmou em seu perfil no Twitter. “A conta da irresponsabilidade de Bolsonaro e seu general da Saúde ao desprezar vacinas, e do vacilo da maioria do Congresso, chegou”, afirma, sobre a lentidão nas ações de combate ao coronavírus no Brasil.
A mesma preocupação é manifestada pelo também médico infectologista Caio Rosenthal, para quem, “num país onde hoje, 22 de fevereiro, apenas 2% da população apenas foi vacinada, não temos boas perspectivas pela frente”.
Rosenthal ainda cobra: “Temos de obrigar o governo a distribuir vacinas. Todas as vacinas são boas, diminuem substancialmente o número de pessoas adoentadas, a gravidade da doença. E isso vai impactar lá na frente as internações, vai melhorar a possibilidade de leitos, diminuiu o trabalho dos médicos e obviamente beneficiar os cidadãos. Todas as vacinas, as que vierem primeiro, são as mais bem-vindas. Aquela que está mais perto do seu braço, você deve receber”.
Contratos não assinados
Padilha lembra que os laboratórios Pfizer e Jansen ofereceram juntos, ao Brasil, mais de 80 milhões de doses de vacinas, em contratos ainda não assinados pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Atualmente deputado federal pelo PT de São Paulo, Alexandre Padilha comenta que o Congresso precisa aprovar a nova medida provisória que obriga o governo federal a incorporar todas as vacinas eficazes e seguras disponíveis no mundo para o combate ao coronavírus. “E, na abertura da Comissão Mista do Orçamento, precisamos recuperar os recursos que o governo federal quer retirar do SUS”, ressalta o parlamentar, sobre as medidas emergenciais para salvar o Brasil.
Agir de imediato
Padilha destaca que estados e municípios com crescimento importante nas internações de UTI precisam agir rápido. “Como Araraquara está fazendo: se antecipar e iniciar o fechamento”, receita o ex-ministro.
“O Brasil é muito heterogêneo e o fechamento total não pode ser visto como uma medida nacional, para todas as regiões do país. Mas nas regiões onde voltou a ter crescimento de internações em leitos de UTI precisa urgentemente desse fechamento total para buscar estancar a transmissão, o espalhamento das variantes da covid-19 que surgiram no Brasil.”
Para o deputado federal, o cenário atual já é terrível. “Temos crescimento absurdo de mortes, de média móvel diária. O acometimento maior em público mais jovem e alguns relatos de evolução mais rápida para a letalidade. Isso é gravíssimo”, avalia Padilha.
“A cidade de Campinas, por exemplo, tem 100% dos seus leitos de UTI ocupados por pacientes com covid-19. A progressão e crescimento nas cidades de Araraquara, Valinhos, Jaú. A situação de Fortaleza, Salvador, São Paulo. São fotografias de um carro em movimento, mas vemos essas imagens no retrovisor. Ou seja, a fotografia de internação de leito de UTI hoje tem relação com algo que aconteceu 15 dias atrás. Tem o volume de infecções que vieram acontecendo ao longo dos últimos 15 dias que ainda não foram detectadas. O tamanho explosivo delas, em algumas cidades e regiões, ainda não foi detectado”, detalha.
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Por isso é preciso urgência. “Tudo isso pode significar uma pressão sobre o sistema de saúde muito forte nos próximos dias e semanas. Dos cerca de 17 mil leitos de UTI abertos ou qualificados no enfrentamento à covid-19 no ano passado, houve redução para cerca de 3 mil leitos que se mantêm financiados pelo Ministério da Saúde. Pode haver necessidade muito rápida de reabertura de leitos por parte das cidades, dos estados. E sem ter equipe, médico para isso. Ou pessoal capacitado. Profissionais novos que não tiveram experiência no ano passado na condução da pandemia, estão sendo chamados para atendimento nesse momento”, disse.
"Passo de tartaruga"
Três variáveis têm sido decisivas para esse cenário de horror no combate ao coronavírus, considera o ex-ministro Alexandre Padilha. “Primeiro a lentidão do plano de vacinação fictícia de Bolsonaro e de seu general que ocupa o Ministério da Saúde. Estamos completando um mês desse plano de vacinação e ele continua num ridículo passo de tartaruga.”
A segunda variável, diz o médico, é o surgimento de variantes das cepas do vírus Sars-Cov-2 no Brasil com aparente poder de transmissão mais rápido e atingindo faixas etárias mais jovens em relação aos casos graves.
“E a terceira, a insistente campanha por parte do governo Bolsonaro e do seu bolsonarismo de estimular aglomeração, o não uso de máscara, o contato entre as pessoas, a minimização da pandemia. Isso provocou um final e começo de ano de muitas festas, aglomerações, reencontros de famílias e está cobrando a conta neste momento em várias cidades espalhadas pelo país. O que aconteceu em Manaus pode pipocar em outras cidades médias e grandes do país”, avisa Padilha.
"Desgoverno"
Caio Rosenthal também tem uma visão muito “pessimista” do quadro que o Brasil atravessa. “E baseada em fatos reais. Não sou pessimista porque a vacina é ruim ou porque a doença não tem controle. Sou pessimista porque o nosso desgoverno não tem mais condições de assumir essa pandemia. A distribuição das vacinas, a forma atabalhoada, errada, despreparada como está sendo enfrentada essa pandemia, não é à toa que está sendo considerado um dos piores, se não o pior país do mundo, em termos de enfrentamento e condução da pandemia”, avalia.
Para Rosenthal, todo cidadão brasileiro deveria protestar contra esse estado de coisas, essa “bagunça” que o país vive em relação à imunização no combate ao novo coronavírus.
“A vacinação é um direito de todo brasileiro. Temos de nos reunir em associações, sindicatos, em comissões, protestar na mídia, protestos virtuais. Sempre levando em conta que não podemos fazer aglomerações, sair de casa com máscaras e evitar contato físico. Estamos numa situação realmente dificultada e é óbvio que essa falta de movimento popular favorece esse desgoverno. Estamos de mãos amarradas nesse sentido, mas temos de continuar protestando, nos mobilizarmos para que mude esse estado de coisas. Como está vamos cada vez mais para o buraco”, lamenta.