As revelações de diálogos entre procuradores da Operação Lava Jato e o ex-juiz federal Sergio Moro causam náuseas, segundo o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay. Ele diz que as mensagens, obtidas pela Operação Spoofing, demonstram “obscenidade, abusos e mentiras”, cometidos pela força-tarefa de Curitiba.
Kakay, que advogou para 35 investigados durante a operação Lava Jato, entre eles o doleiro Alberto Yussef, diz que desde 2014, quando começaram as investigações, viu “a obscenidade dos excessos cometidos pelo grupo de Curitiba”.
Em entrevista aos jornalistas Cosmo Silva e Maria Teresa Cruz, no Brasil TVT, do canal TVT, o advogado diz que viu diversos abusos da delação premiada. “Era feita de maneira prostituída, com pressões para que as delações atingissem quem eles queriam", avalia Kakay.
"Essas gravações e mensagens são preciosas e confirmam tudo que eu havia dito. O Moro achava que tinha jurisdição nacional para descumprir as ordens dos tribunais superiores. Ele ainda tinha um grande poder absoluto, porque a grande mídia estava ao lado dele”.
O especialista criminal também desmente o argumento dos procuradores da Lava Jato sobre a legalidade do processo ter sido confirmada nas instâncias superiores. “O argumento deles é de que os tribunais superiores votaram a favor das decisões preferidas por eles. Isso é mentiroso. Os tribunais, como STJ e STF, agiram de acordo com a prova produzida e foram induzidos ao erro”, disse.
Os diálogos, obtidos pela Operação Spoofing, fazem parte de uma petição da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma das conversas, procuradores falam em “atingir Lula na cabeça”. Nas mensagens, procuradores articulam com Moro a prisão do ex-presidente.
Banalização do absurdo
Em artigo publicado, na última sexta-feira (26), no Poder 360, Kakay diz que Lava Jato instrumentalizou o Judiciário e atuou em prol de um projeto de poder. O advogado diz que há uma “banalização do absurdo” diante da quantidade de informações reveladas na Operação Spoofing.
Um dos “absurdos” banalizados pela mídia, segundo Almeida Castro, é o da delegada Erika Marena, que era a responsável pelos casos do consórcio de Curitiba. As mensagens revelam que Marena forjou depoimentos, entre eles do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier, alvo de prisão preventiva. Cancellier cometeu suicídio logo em seguida, em outubro de 2017.
“A prisão levou ao suicídio, por tantas maldades cometidas. As mensagens mostram que ela forjou o depoimento. Com 40 anos de advocacia, eu nunca vi nada parecido. É inacreditável você acreditar que uma delegada de polícia criou um depoimento falso”, disse Kakay.
Para o advogado, o STF também deve decidir pela suspeição de Sergio Moro, pois “nunca viu um processo tão viciado de nulidade”. “Não haverá nenhum professor do Brasil que entrará numa sala de aula para falar sobre o artigo da suspeição, se o Moro não for considerado suspeito. Ele é a parcialidade em pessoa. Esse cidadão usou o Poder Judiciário e esbofeteou os juízes dignos”, finalizou.