O Brasil é um dos países com o maior índice de contaminações por covid-19 no mundo. Mais de 10,5 milhões de brasileiros desenvolveram a doença em algum nível, entre casos graves e assintomáticos. Na última segunda-feira (1º), o país ultrapassou a marca de 255 mil óbitos, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Outro número que se destaca nas estatísticas são os de recuperados: mais de 9,4 milhões de pessoas se recuperaram da doença desde o início da pandemia no país, em março do ano passado.
Um estudo publicado em junho de 2020 na revista científica “Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)” revela que ainda serão necessários anos para que a ciência possa compreender melhor a dinâmica dos riscos da covid-19 e suas sequelas.
O estudo é assinado pela pesquisadora brasileira Marília Nepomuceno, do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, com sede na Alemanha.
O Brasil de Fato Ceará entrevistou pessoas que conseguiram se recuperar da infecção pelo novo coronavírus para entender como conviveram com a doença que tirou a vida de milhares ao redor do mundo.
Avassaladora
É com esse adjetivo que o servidor público José Roberto define a covid-19. Ele foi infectado em junho de 2020, quando a cidade onde mora, Juazeiro do Norte, estava passando pelo período de pico de novos casos e aumento de mortes.
O servidor público conta que todos os testes que fez, incluindo o teste molecular RT-PCR, considerado de alta credibilidade para detectar a presença do novo coronavírus no organismo, deram falsos negativos. O diagnóstico veio após um exame de imagem que identificou um comprometimento de 50% da função pulmonar.
"Eu já imaginava que a covid era grave, mas não sabia que seria tão avassaladora. As minhas funções cognitivas foram afetadas, além da física e muscular. É semelhante a uma infecção generalizada. Tive e ainda tenho problemas por todo o meu corpo", relata José Roberto.
Essa condição clínica de longa duração relacionada após a passagem da covid-19 pelo corpo humano se chama “PASC”, sigla inglesa que, em livre tradução, quer dizer “Sequelas Agudas Pós Covid”.
Assim como José Roberto, muitos pacientes da doença têm relatado a PASC com quadros que variam na forma sintomática, indo de fadiga extrema a problemas gastrointestinais, pulmonares e psicológicos. "Ainda faço terapia porque tive danos psicológicos severos dentro desse processo de sequelas que tive por causa da doença", diz José Roberto.
Dúvidas
A jornalista fortalezense Lérida Caetano sentiu, em março de 2020, sintomas do que ela achou ser uma virose mais forte do que as comuns, com dores no corpo próprias de uma doença viral.
Ela seguiu sendo medicada com acompanhamento médico. Em maio do mesmo ano, Lérida fez um exame sorológico do tipo imunoensaio enzimático (ELISA), que revela a presença de IgA e IgG, a presença de anticorpos virais de Sars-cov-2 no corpo, indicando se a pessoa já teve contato com a doença.
Para a surpresa da jornalista, o exame deu positivo, e o que ela achou ser uma virose, na verdade era covid-19. "O sintoma mais complicado para mim foi a dor no corpo que, de fato, foi bem forte, como nunca senti em nenhuma outra virose pela qual passei na vida", comenta Lérida.
Apesar desse sintoma, a jornalista não teve maiores complicações. "Como é uma doença que ninguém conhece, não sabemos de fato como é pós a doença, então eu fico sempre alerta. Me sinto grata por ter sido curada, mas é como se essa cura fosse pequena diante do medo de ser infectada novamente", explica.
Cotidiano
O professor Cláudio Luan Freire foi acometido pelo coronavírus junto com sua esposa, filha e sogro, de 82 anos, que tem hipertensão, bronquite e Alzheimer.
Toda a casa passou pela doença sem complicações e sequelas maiores. "A maior complicação foi com meu sogro, pois, devido à idade, ficou bastante debilitado, sem querer se alimentar. Porém, não precisou ser internado. Conseguimos reverter o quadro em casa e todos receberem alta conforme o previsto", conta.
Ele diz ainda que a família ficou em isolamento conforme as recomendações dos médicos do Posto de Saúde da Família que atende no bairro onde mora, no município cearante de Crato. "Minha esposa foi a primeira a apresentar os sintomas e logo fomos procurar o atendimento médico no PSF, onde a médica pediu exames e o isolamento dela", completa.
O procedimento de atendimento padrão para os casos de covid-19 é manter o isolamento domiciliar por no mínimo 14 dias. Se os sintomas apresentarem piora, as unidades sentinelas devem ser procuradas para que os procedimentos médicos sejam seguidos conforme cada caso clínico apresentado.
Fonte: BdF Ceará
Edição: Francisco Barbosa