Só três coisas param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha
Já contei aqui histórias de um mentiroso da minha terra, a quem chamei de Zeca...
Vou contar mais umas, sobre futebol.
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Uma aconteceu quando o centroavante Dario, do Atlético Mineiro, também conhecido como Dadá Maravilha, marcou um gol de cabeça em que deu a impressão de ficar alguns segundos parado no ar, esperando a bola. Logo depois do jogo, fez uma declaração folclórica:
— Só três coisas param no ar: beija-flor, helicóptero e Dadá Maravilha.
Mas o Zeca, pescador e caçador que garantia nunca ter contado uma mentira, achou pouco:
— Já fiz muito melhor que isso.
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Tinha testemunhas, mas, como sempre, pessoas que já tinham morrido.
— Eu era novo — ele disse. — Fomos pescar no Sapucaí e saímos pela margem esquerda do rio, procurando um pesqueiro bom. A certa altura, tinha um afluente com uns dois metros de largura, mas muito fundo. Era preciso pular esse corguinho pra chegar no pesqueiro...
— Bom, e daí? — provocou alguém.
— Daí que eu afastei, corri pra pegar embalo e pulei. Quando eu tava bem no alto, no meio do corgo, vi uma urutu do outro lado, bem onde eu ia cair. A bicha tava de boca aberta, me esperando. Dei uma reviravolta no ar, voltei e caí no mesmo lugar de onde tinha pulado...
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Outra vez, ele assistia a uma discussão no Bar Esportiva Nova Resende, sobre quem tinha o chute mais forte em toda a história do futebol da cidade. Uns diziam que era o Celinho, que jogava na Esportiva e mudou-se para Juruaia. Era beque de espera, e os tiros de meta que batia atravessavam o campo e caíam atrás do gol adversário. Outros se lembravam de dois atacantes de chute forte: Toniquinho e Zé Leopoldo...
No meio da discussão, o Zeca, que estava calado até essa altura, resolveu entrar na conversa e todo mundo se calou, sabendo que lá vinha mentira. Ele tinha sempre alguma coisa "inédita" pra contar, mentiras grossas, que ninguém tinha coragem de desmentir.
— Não é nenhum desses aí. O chute mais forte que já teve aqui era o do Tião Folheiro.
— Como é que o senhor sabe? — provocou o Alcindo.
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E ele contou:
— Eu era menino quando reinauguraram o campo da Esportiva, acabando com a inclinação que ele tinha. Foi aí que sobrou aquele barranco atrás do gol de cima. Fiquei sentado no barranco, bem atrás do gol, e vi o primeiro pênalti batido nesse campo novo, pelo Tião Folheiro. Sabe o que aconteceu?
Fez uma pausa e continuou:
— A bola enterrou um metro e meio no barranco!
Edição: Daniel Lamir