Aos 87 anos, Ana Maria Araújo Freire, a Nita, como é mais conhecida, dá continuidade à missão educadora e humanista do companheiro Paulo Freire, respeitado mundialmente pela criação de um método inovador, criativo e libertário de educar.
No ano em que o pensador completaria cem anos, a também educadora Nita Freire enviou um presente para o Maranhão, a quem dedica estima pela valorização da cultura e da educação.
Além de clássicos como “Educação como prática da liberdade” e o internacionalmente conhecido “Pedagogia do oprimido”, foram doados todos os títulos que faltavam à Biblioteca Pública Benedito Leite (BPBL) para que fosse reunida a obra completa do educador no espaço, localizado na capital São Luís.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Nita revela que a doação ao Maranhão se deu pelas ações progressistas desenvolvidas ao longo do governo Flávio Dino (PCdoB), especialmente, pelo investimento na área da educação nos últimos anos.
"O Maranhão tem se distinguido entre os estados brasileiros tomando medidas muito progressistas. O governador Dino está sempre à frente, solicitando as coisas, se empenhando no desenvolvimento, na moralização do país, em um país mais justo, mais equitativo, com menos miséria e analfabetismo. Considero ele um expoente entre os governadores do Brasil", pontua a educadora.
Ela destaca a valorização salarial dos professores como um dos gestos de compromisso e inteligência do então governador, e relembra frases célebres de Paulo Freire ao defender que “a educação não faz tudo, mas sem ela não se transforma a sociedade”.
"É o estado do Maranhão que está pagando o melhor salário para as professoras primárias. Isso é um gesto não só de generosidade e bondade, mas de inteligência. É assim que podemos construir um país melhor, um país mais justo. Paulo dizia: a educação não faz tudo, mas sem ela não se transforma a sociedade”.
Doutora em Educação pela PUC-SP, foi à Nita que o seu companheiro Paulo Freire designou, em testamento, os direitos de suas obras e a missão de dar continuidade a elas.
Em 2019, Nita esteve no Maranhão e foi recebida com a honra de adesão à ‘Ordem Timbiras’, destinado às personalidades que se destacam por relevantes serviços prestados ao Estado, contribuindo para o bem-estar social e a grandeza material e espiritual do seu povo.
A obra do educador é inspiração para diversos programas desenvolvidos no estado, entre eles o programa “Sim, eu posso!”, que, em parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), alfabetiza jovens e adultos em municípios e povoados do Plano Mais IDH, um plano estadual para redução da extrema pobreza.
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Nita declara que, durante esta passagem pelo estado, se encantou com a Biblioteca Pública Benedito Leite e com o empenho para o desenvolvimento da leitura e da diversidade da cultura local. Com saudades, ela relembra detalhes do artesanato, do bumba meu boi e da alegria maranhense.
Para a educadora, o gesto de doação dos livros reforça a necessidade de preservar e valorizar aquilo é nosso. "É encantador você chegar em São Luís e ver os bordados, as estatuetas de barro, com o povo na rua muito alegre, as danças de bumba meu boi. Por todo lugar que você vai, você sente pulsar o Brasil. É a valorização daquilo que é nosso. É isso que eu entendo com esse meu presente: valorizar a brasilidade".
Biblioteca Pública Benedito Leite
Criada em maio de 1831, a Biblioteca Pública do Maranhão é a segunda biblioteca mais antiga do país. Localizada originalmente na Praça do Pantheon, recebeu o prédio que hoje abriga os mais de 120 mil exemplares no século XX.
A Biblioteca Pública do Estado recebe o nome de Biblioteca Pública Benedito Leite em homenagem ao ex-governador do Maranhão e hoje guarda preciosidades, como o manuscrito de Machado de Assis enviado a Arthur Azevedo.
Para a diretora da BPBL e bibliotecária Aline Nascimento, a doação engrandece ainda mais o espaço e é motivo de orgulho para todos os maranhenses.
"Ela resolveu dar esse presente a todos nós maranhenses e estamos muito gratos e felizes com essa doação. Com certeza, esse sentimento é também de todos os maranhenses".
A diretora explica que todas as obras serão reunidas em um espaço específico, dedicado à memória do patrono e grande mestre da educação brasileira.
"Esse acervo vai ocupar um espaço especial na biblioteca. Vai ser um espaço permanente para que tenha mais visibilidade e para que as pessoas tenham acesso direto à obra. Se estivesse vivo, Paulo Freire completaria cem anos. Vamos celebrar esse centenário do grande mestre da educação brasileira", completa Aline.
Edição: Poliana Dallabrida