Semana foi a mais letal da pandemia
O Brasil encerra a semana com novos recordes relacionados à pandemia. Um deles mostra que o patamar de pacientes simultâneos infectados pela covid-19 no país está acima de 1 milhão há mais de dez dias.
Atualmente, são pelo menos 1.197.616 doentes, segundo estatísticas oficiais divulgadas na última sexta-feira (19), o 12º dia da contagem.
:: Brasil registra 2.815 mortes nas últimas 24 horas em semana mais letal da pandemia ::
Publicado pelo Ministério da Saúde (MS), o dado se refere a pacientes que foram testados, tiveram a contaminação confirmada e estão em monitoramento, não necessariamente em internação hospitalar. O número ajuda a mensurar os riscos de maior alastramento da doença.
Paralelamente, o Brasil também bateu novos recordes em termos de mortes: foram mais de 3 mil na quarta (17), primeiro dia em que os óbitos chegaram a esse nível de alerta. Na mesma data, o país registrou quase 100 mil novos casos de covid, segundo dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).
A semana foi marcada pela manifestação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de que o Brasil vive “o maior colapso hospitalar e sanitário da sua história”. Em um novo boletim, especialistas da instituição mostraram, na terça (16), que 24 estados e o Distrito Federal têm hoje ocupação de leitos de UTI igual ou superior a 80%. O dado diz respeito às unidades destinadas a casos de covid.
Os números se referem ao Sistema Único de Saúde (SUS) e 15 desses estados têm taxas superiores a 90%. Entre as capitais, 25 das 27 cidades da lista têm índices iguais ou acima de 80%, enquanto 19 delas estão com capacidade acima de 90% de ocupação.
A capital paulista, por exemplo, registrou na quinta (18) a primeira morte de paciente que sucumbiu à espera de um leito.
A tendência é que o desfinanciamento da área da saúde – marcado especialmente pela entrada em vigor do Teto dos Gastos – tenha seus resultados mais expostos agora. “Isso aumenta o risco de a gente ter uma tragédia ainda maior neste período”, salienta o médico de família Aristóteles Cardona Júnior, da Rede de Médicas e Médicos Populares.
O especialista destaca a preocupação com a falta de insumos. Na última quinta (18), entidades de intensivistas, hospitais e operadoras de saúde se reuniram com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para colocar o assunto em pauta.
Tais segmentos apontam carência de medicamentos para entubar pacientes, ao mesmo tempo em que diferentes governadores e prefeitos falam em risco de falta de oxigênio.
Analgésicos, sedativos e bloqueadores musculares, por exemplo, podem acabar em menos de 20 dias no país. O cenário agrava o contexto de tensão psicológica e cansaço físico em que se encontram as equipes de saúde que atuam na linha de frente do combate à covid.
“Além do cansaço e da exaustão, a gente tem vivido um clima de muita apreensão neste momento. Já há situações de equipamentos e outras coisas que estão sendo racionados pra que durem um pouco mais, mas também há vários indícios de que a gente pode estar em breve com falta de insumos básicos para o cuidado das pessoas, seja nas UTIs, seja nos leitos de menor gravidade”, diz Cardona Júnior.
Médicos
Outro alerta importante partiu da Associação Médica Brasileira (AMB), que destacou esta semana que o Brasil não tem profissionais em número suficiente para suprir a necessidade de atendimentos que surge no país a partir da escalada da pandemia.
O presidente da entidade, César Eduardo Fernandes, disse à agência Reuters que a demanda no momento é “brutal e catastrófica”, especialmente em leitos de UTI.
O país tem mais de 540 mil médicos, mas faltam profissionais intensivistas e gente capacitada para permitir a ampliação do número de leitos. Aristóteles Cardona Júnior explica que o problema não tem solução de curto prazo e reforça a importância das políticas de isolamento em todo o país.
“Existem duas formas de se combater a covid: uma que é da porta do hospital pra dentro, com as UTIs e os pacientes graves, e outra da porta do hospital pra fora. Quando chega o momento em que a crise está instalada da porta do hospital pra dentro, é muito mais difícil de se conseguir resolver, independentemente das condições.”
Ele lembra que a ampliação de leitos não freia as contaminações. “Não adianta abrir centenas ou milhares de leitos de UTI porque o vírus continua circulando e adoecendo muita gente. Quanto mais pessoas adoecerem, mais pessoas vão ficar em estado grave, e o problema vai se tornando cada vez maior.”
Caos funerário
Outro viés de preocupação no Brasil surge a partir das manifestações feitas pela Associação de Empresas e Diretores do Setor Funerário (Abredif). O presidente da entidade, Lourival Panhozzi, tem dito que o segmento pode entrar em colapso porque já estão faltando materiais para fabricantes de urnas funerárias.
Na primeira quinzena deste mês, o setor registrou aumento de quase 30% da demanda na comparação com março do ano passado, início da pandemia no país, quando as empresas do ramo registraram 12% de crescimento na procura por esse tipo de serviço.
Suspensão de férias de funcionários e busca por um plano de contingência fazem parte do cenário da rede hoje.
“Essa é uma das coisas que mais nos assustam porque é um indicador muito consistente. Confesso que não esperava isso pra este momento, e só aumenta o drama. Além de tudo, temos agora este caos no final do ciclo relacionado às mortes”, lamenta Cardona Júnior.
Edição: Poliana Dallabrida