Foi o único jogo até hoje que terminou com o placar de meio a zero
Tem uma história de um jogo de futebol que conto sempre, acontecida na minha região, no sul de Minas, no início dos anos 1950.
Eu não vi, era um moleque muito pequeno ainda, e o jogo foi numa cidade vizinha, Juruaia.
Aliás, nem sei se é verdade. Mas escutei na barbearia do meu pai, gostei e sempre contei por aí, publiquei em revistas e até num livro. E vejo muita gente contando a mesma história... Acredito que leram ou ouviram o que contei.
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E vou contar aqui de novo.
A Esportiva Nova Resende estava jogando em Juruaia, contra o time local, seu tradicional adversário. A bola era velha e meio torta, meio oval, mas não tinham outra. Sempre jogaram com bolas como aquela.
A geração atual não conhece bolas como as daquele tempo. Tinha uma bexiga com um bico e, depois de cheia, esse bico era amarrado e colocado para dentro, e o capotão era amarrado com um cordão de couro.
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Mas voltando ao tal jogo, aos 40 minutos do segundo tempo, com o placar de zero a zero ainda, a bola sobrou pingando para o centroavante Cavadeira, da Esportiva, ele encheu o pé, chutou com toda a força, mas o goleiro estava bem colocado e pulou, agarrando a “redonda” no peito.
Acontece que a bola velha não resistiu. Ao bater no peito do goleiro, estourou, e ele ficou segurando só o capotão, enquanto a câmara de ar saltou para dentro do gol. Aí começou a confusão.
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Os jogadores da Esportiva começaram a comemorar, gritando que o que valia era a câmara de ar, enquanto os de Juruaia afirmavam que o capotão era o que valia e este o goleiro pegou. Os 22 jogadores e mais os reservas falavam sem ninguém ouvir:
— O que vale é a câmara...
— Não foi gol não, o capotão não entrou...
Quando já estavam partindo pra briga foi que o juiz resolveu fazer valer sua autoridade:
— Prrrrriiiii, prrrrriiiii, prrrrriiii — apitava alucinado para chamar a atenção dos jogadores, até que resolveram ouvi-lo.
— Quem entende de regra aqui sou eu! Eu é que sei o que vale e o que não vale — ele gritou.
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Aí perguntaram:
— Então como é que é? É gol ou não é?
Ele respondeu com determinação:
— Tá na regra: quando a câmara de ar entra e o capotão não entra, vale meio gol!
Foi o único jogo até hoje que terminou com o placar de meio a zero.
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Daniel Lamir e Rebeca Cavalcante