"Desculpe, meninas, sei que é chulo o que eu vou dizer, mas é aquele ditado: se o estupro é inevitável e iminente, relaxe e aproveite".
A fala foi proferida do professor Ricardo Germano Efing, em uma aula remota do curso de Engenharia da Produção do Centro Universitário Vale do Iguaçu (Uniguaçu), de União da Vitória, na região sul do Paraná.
A aula, da disciplina de ergonomia, foi transmitida no dia 12 de março. O comentário foi feito enquanto o professor dava um exemplo sobre casos em que empresas precisam demitir pessoas que não conseguem se adaptar a novos processos e novas tecnologias.
A gravação do comentário viralizou nas redes sociais. Diante da repercussão do caso, a Uniguaçu anunciou o desligamento do professor, na última sexta-feira (19). O Centro Universitário Campo Real, de Guarapuava, onde Efing também trabalhava, informou no último sábado (20) sobre seu desligamento.
"Não é só uma frase. Isso gera trauma, medo, insegurança. Revela o machismo mesmo", afirma Thays Bieberbach, vereadora de União da Vitória pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Militante de movimentos feministas há mais de dez anos, Thays lembra que o caso não é isolado. "A violência moral e sexual dentro das instituições de ensino é muito forte, mas abafam bastante", diz.
Fora da regra de casos assim, na avaliação de Thays, está o posicionamento da universidade. Além de desligar o professor, a Uniguaçu fez uma reunião com a turma que assistiu à aula e, por meio do coordenador do curso, desculpou-se.
Movimentos repudiam
Desde que se tornou público, o caso tem gerado debates no município de União da Vitória. Nesta segunda (22), movimentos populares, coletivos feministas e mandatos de parlamentares divulgaram uma carta aberta de repúdio à fala machista do professor.
"Essa fala nos revela a cultura do estupro, uma violência velada contra as mulheres que existe de forma muito marcante na sociedade, e que é reproduzida continuamente através de piadas e brincadeiras aparentemente inofensivas", diz trecho da carta.
O texto lembra que União da Vitória e o Paraná têm histórico marcante de violência contra as mulheres. Em 2012, o município ficou em 4º lugar no ranking paranaense de cidades mais perigosas para a mulher, segundo dados do Mapa da Violência.
Em 2020, mais de 500 medidas protetivas foram expedidas pela Delegacia da Mulher no município.
O último relatório realizado pelo Instituto Sangari indica que o Paraná ocupa o 3º lugar no ranking nacional de violência contra a mulher.
União da Vitória está na 52º posição entre as 100 cidades mais violentas do país, onde mulheres e meninas são violentadas, estupradas e mortas diariamente.
Resposta do professor
O professor Ricardo Germano Efing se manifestou através de nota:
"Tendo em vista os acontecimentos advindos da divulgação de vídeo contendo pequeno fragmento descontextualizado da aula transmitida via Internet em razão das medidas impostas pela pandemia do COVID-19, gostaria de esclarecer, com integral respeito, o que segue.
Ao exemplificar uma situação, foi utilizada expressão popular que, após a devida reflexão, se mostra integralmente inapropriada e que não poderia ser aceita com naturalidade ou indiferença. Não se pode deixar de reconhecer o machismo estrutural presente em nossa sociedade que, infelizmente, reproduz comportamentos os quais devem ser devidamente enfrentados de modo construtivo, para que todos possam aprender e progredir para uma sociedade mais respeitosa e igualitária. Reconhece-se este erro e será buscado o necessário aprendizado com essa situação.
Feita esta reflexão, entende-se que a trajetória acadêmica e a carreira no magistério não podem ser avaliadas por uma expressão isolada. Expresso desde logo meu pleno respeito à todas as mulheres, jamais pretendendo ofendê-las ou agredi-las. Externo minhas mais sinceras desculpas e fico à disposição para prestar os esclarecimentos devidos no sentido de ser desfeito este lamentável fato".
Fonte: BdF Paraná
Edição: Poliana Dallabrida e Lia Bianchini