O Brasil ultrapassou nesta quarta-feira (24), a marca de 300 mil mortos por covid-19. Desde o início do surto, em março de 2020, os registros oficiais apontam 300.675 vítimas, de acordo com o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). O órgão recebeu, as últimas 24 horas, notificações que somaram mais 1.999 óbitos ao balanço da pandemia no país. No mesmo período, também foram reportados 89.414 novos casos de covid no Brasil, totalizando 12.219.433 desde o ano passado.
Entretanto, o número está defasado. Isso, porque o governo impôs, também nesta quarta, exigências novas para notificações, sem aviso aos municípios e estados, dificultando o registro total de mortes no período. Horas após a decisão, com a intensa repercussão negativa entre amplos setores da sociedade, o governo recuou. Assim, a distorção dos dados de hoje tende a ser corrigida nos próximos dias.
De todos os estados do Brasil, apenas Amazonas e Roraima não estão com o sistema de saúde em colapso por falta de leitos para covid neste momento. Diante da realidade trágica, a Fiocruz divulgou, na noite de ontem, nota pedindo isolamento rígido – lockdown – por 14 dias em todos os estados colapsados.
::Feriado prolongado ou lockdown? Live do Brasil de Fato discute medidas contra a covid::
A instituição reafirma que esta é a única forma de reduzir a circular do vírus e assegurar uma redução de 40% no número de internações. “A continuidade dos cenários em que temos o crescimento de todos os indicadores para covid-19, como transmissão, casos, óbitos e taxas de ocupação de leitos de UTI resulta em colapso que afeta todo o sistema de saúde no país e no aumento das mortes por desassistência. Trata-se de um cenário que não é só de uma crise sanitária, mas também humanitária, se considerarmos todos os seus aspectos”, afirma a Fiocruz.
Enquanto isso, a proliferação de métodos não confirmados de combate à doença seguem gerando vítimas
Três pacientes nebulizados com hidroxicloroquina diluída morrem em Camaquã. Médica convenceu famílias a aderirem ao tratamento não previsto nos protocolos
— Coronavírus Brasil (@CoronavirusBra1) March 24, 2021
Negacionismo
A marca de 300 mil mortes é superada exatamente um ano após o primeiro pronunciamento de Bolsonaro sobre a pandemia em cadeia nacional.
Na ocasião, o presidente já mostrou qual seria sua postura ante o surto. Exceção quase única em todo o mundo, ele adotou de imediato a negação da ciência e a ignorância como políticas de governo. Chamou a covid-19 de “gripezinha”, disse se tratar de “verdadeira histeria” propagada pela mídia, cravou que “brevemente passaria” e, num arroubo pessoal e desnecessário, que ele não precisaria se preocupar com o vírus em razão de “seu histórico de atleta”.
Desde então, Bolsonaro coleciona descasos mesmo ante a morte diária de centenas de brasileiros, que agora morrem aos milhares. Atuou pessoalmente para que a situação fosse agravada. Estimulou e promoveu aglomerações, disse que o uso de máscaras é “coisa de maricas”, disse que “não compraria e não tomaria” vacinas e passou a estimular os brasileiros a tomar medicamentos comprovadamente ineficazes contra a covid-19, como a cloroquina e a ivermectina.
O governo chegou a pressionar para que estados e municípios distribuíssem o chamado “kit covid”, que hoje, é apontado como responsável direto pela morte e adoecimento por hepatite medicamentosa em pessoas saudáveis.
Mais mentiras
Na terça (23), Bolsonaro voltou a se pronunciar em rede nacional. Em um discurso breve, Bolsonaro voltou a apresentar informações mentirosas sobre a atuação de seu governo ante a pandemia. No dia em que o país contabilizou mais de 3.200 mortes, disse que “o governo não deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus como para combater o caos na economia”, e disse que o Brasil é o quinto país que mais vacinou no mundo.
Bolsonaro “esquece” que as ações de seu governo que dificultam, e até impediram, o combate à covid. O presidente chegou a entrar na Justiça contra medidas de isolamento, que são unanimidade entre a comunidade científica para conter a disseminação do vírus. Além disso, Bolsonaro distorce os dados para confundir a população. Ele baseia sua bravata em números absolutos de vacinas aplicadas no Brasil – cerca de 12 milhões de doses. Porém, na relação de vacinados proporcionalmente à sua população, o país não está sequer entre os 50 que mais vacinaram no mundo.
O pior momento
O Brasil é o epicentro da covid no mundo. Ontem, o país foi responsável por um terço das mortes registradas em todo o planeta. Desde o dia 9 de março é o país que registra mais casos e mortes no mundo, superando os Estados Unidos. Enquanto isso, o governo mantém um calendário errático de vacinação, sem precisão e com grande atraso. Tudo provocado pelo negacionismo de Bolsonaro, que preferiu não assinar contratos com as farmacêuticas, no ano passado.
Até hoje, 12.793.737 pessoas receberam a primeira dose de uma vacina, ou 6% da população. Destas, 4.334.905 (2% dos brasileiros), estão imunizados com a segunda dose. Mais de 80% das vacinas distribuídas no Brasil são doses da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac. Bolsonaro guerreou abertamente contra esta vacina, chegando a dizer, mais de uma vez, que “não compraria a vacina chinesa do João Doria”, que ela “não transmitia segurança”, que “transformaria a pessoa em jacaré” e poderia provocar “anomalias”. Entre outros absurdos.