São experiências de modelo de como manter a floresta em pé e o meio ambiente saudável
Que tal aprender agroecologia ao pisar o solo, ouvir os pássaros e sentir o clima agradável de uma mata preservada de Reserva Extrativista (Resex)? O turismo comunitário pode ser uma boa proposta para confirmar que o conhecimento agroecológico vai para além do acúmulo de teorias.
A população da Vila de Anã, no município de Santarém, no Pará, desenvolve uma dessas experiências que junta a importância de um saber objetivo sem abrir mão também da cognição subjetiva.
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São cerca de 100 famílias que vivem no local. Quase todas são beneficiadas pela recepção de turistas para descansar e trocar conhecimentos em áreas como meliponicultura, piscicultura e extrativismo. A comunidade está localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns, compartilhando também saberes sobre harmonia com a natureza no Baixo Amazonas.
Audair Imbiriba, coordenador de turismo comunitário local, elenca as principais atrações das visitas agroecológicas no local.
“Estão dentro do turismo de base comunitária os pontos atrativos de visita à criação de peixe em tanque-rede, na gaiola flutuante; a criação de abelhas melíponas - que são as espécies sem ferrão -; e a própria comunidade mostrando o potencial da natureza em si e seus pontos turísticos, como os igarapés, as trilhas e o passeio de canoa na floresta alagada”, detalha.
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Antonio Cardoso, presidente da Associação de Piscicultores Agroextrativistas de Anã (APAA) ressalta que todo o trabalho de turismo agroecológico é feito de forma integrada entre troca de conhecimentos e desenvolvimento local. Ele afirma o próprio exemplo da criação de peixes favorecer os visitantes no local.
“Hoje nós abastecemos a própria hospedaria, o turismo e as famílias do entorno. Então eu acredito que são projetos muitos bons para a nossa região, principalmente para nossa área de Resex e a comunidade. Os projetos de meliponicultura, piscicultura, turismo de base agroecológica hoje na comunidades são experiências de modelo de como manter a floresta em pé e o meio ambiente saudável, que serve para as famílias da comunidade e do entorno. Hoje a natureza nos oferece as oportunidades. Então é muito importante esse trabalho na comunidade”, afirma.
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Antonio informa que das 100 famílias locais, 84 são beneficiadas direta ou indiretamente pelo projeto de turismo comunitário e agroecológico. Além disso, todas as atividades na comunidade servem para projetos de reflorestamento no bioma amazônico no local.
Por outro lado, a pandemia do novo coronavírus freou as atividades por tempo indeterminado.
“Hoje parou tudo. Há uma preocupação grande por não estarmos recebendo turistas. Então, com isso, ficamos inquietos porque sabemos que o turismo é uma fonte de renda complementar e isso estava bombando na nossa região. Então, afetou de tal maneira que hoje a gente se preocupa de dizer assim: 'será que vai voltar para a gente trabalhar?'. Porque nós temos a nossa cultura e as pessoas que vêm de fora trazem a sua cultura. Isso era muito legal porque era uma troca de experiências que tínhamos com essas pessoas que vinham de outras regiões. Então hoje a comunidade está parada com esse trabalho”, afirma Audair.
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A expectativa de superar o momento pandêmico se junta ao desejo de expansão territorial. Moradores e moradoras de Anã projetam que a experiência local seja desenvolvida em toda a Resex Tapajós Arapiuns.
Neste caso, o foco das cercas de 400 pessoas de Anã iria se irradiar para um conjunto de outras 23 mil, que residem em uma das maiores e mais populosas Unidades de Conservação do Brasil.
Edição: Douglas Matos