Palmeira incorporada aos símbolos do império brasileiro, mesmo que tivéssemos outras plantas nativas
D. João VI inaugurou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro em 1809 pouco tempo depois de chegar ao Brasil. Embalado pela necessidade de aclimatação de novas plantas e em busca de novos produtos, o Jardim Botânico foi uma necessidade econômica desde que nasceu sob a guarda do Ministério dos Negócios de Guerra. Logo na inauguração dizem que d. João VI foi o grande incentivador do plantio da Palmeira Imperial, cujo nome científico é Roystonea oleracea.
A palmeira imperial tem origem nas Antilhas e sua aclimatação no Brasil pelo imperador português exilado é um exemplo da intensa troca de sementes, mudas e plantas que ocorreu no mundo desde o final do século XVI e ao longo de todo o século XIX. Das Antilhas, seu berço de origem, a palmeira foi aclimatada pelos franceses no Jardim Botânico La Gabriellle, na Guiana Francesa, depois foi aclimatada no Jardin de Pamplemousse, nas Ilhas
Maurício.
Os países então viviam uma corrida atrás de produtos do Novo Mundo que poderiam gerar riqueza: foi assim com a aclimatação do chá e do café. E esse vai e vem de plantas muitas vezes resultavam em guerra ou escamuraças entre as nações. Muitas histórias estranhas e segredos envolvem a chegada da Roystonea oleracea ao Rio de Janeiro. Uma delas conta que a palmeira imperial de d. João VI foi um presente de um dos sobreviventes de uma fragata, o oficial da Armada Real, Luís Vieira e Silva. Esse exemplar teria vindo do Jardin de Pamplemousse, nas Ilhas Maurício.
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A outra história é mais interessante. Exatamente em 1809, estourou uma crise do governo português com a Guiana francesa – lembrando que d. João VI se exilou no Brasil para fugir de Napoleão, que estava invadindo Portugal. No Brasil, aliado dos ingleses, d. João se viu impelido a enfrentar uma espécie de guerra nos trópicos. D. Rodrigo de Souza Coutinho, então Conde de Linhares e ministro de guerra e relações exteriores, estava decidido em levar à “ruína total” a Guiana.
Outro político da época, Manuel Arruda Câmara, médico e botânico, tinha outras ideias e achou que o jardim de aclimatação de lá era de grande valor para o Brasil e devia ser preservado e enviado pra cá. Na escaramuça, vieram contrabandeadas para o Brasil diversas mudas, inclusive de chá e de café. E no meio daquele maravilhoso e valioso jardim estava a palmeira plantada no Jardim botânico do Rio por d. João.
Assim, a primeira palmeira Roystonea oleracea plantada no Brasil foi chamada de Palma Mater e logo apelidada de palmeira-imperial. A palmeira foi então incorporada ao panteão de símbolos do império brasileiro, mesmo que tivéssemos outras palmeiras nativas.
Essa Palma Mater de d. João floresceu pela primeira vez em 1829, quando já éramos independentes de Portugal. Reza a lenda que dela descendem todas as palmeiras imperiais brasileiras. A palma mater foi destruída por um raioapenas em 1972.
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O imperador d. Pedro II usou a palmeira imperial como símbolo de poder e de distinção real. Ele presenteava nobres, homens de negócio, letras ou ciência com sementes de palmeira imperial que então eram replantadas em fazendas ou cidades pelo país. Assim, quando chegamos numa antiga fazenda de café e vemos o caminho que dá na Casa Grande ladeado por palmeiras imperiais podemos entender que a aquele fazendeiro havia caído nas graças do imperador em algum momento de sua vida e exibia para todos os favores reais que recebido em forma de palmeira.
Bom, essa é a história oficial. E muitas vezes é verdade em diferentes fazendas ou cidade do país. Mas como o símbolo de distinção era muito forte e causava muito impacto, os jardineiros do Jardim Botânico costumavam traficar sementes ilegais. Ou seja, quem podia pagar, recebia algumas sementes que não haviam passado pelo crivo e benção do imperador.
Eram sementes ilegais, mas funcionavam do mesmo jeito – impondo respeito, mostrando poder e riqueza.
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Rebeca Cavalcante