A senadora Kátia Abreu (PP-TO) chamou o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de “marginal” depois de o chanceler acusá-la, pelo Twitter, de fazer lobby chinês pelo 5G. Araújo – a cada dia mais acuado por pressões que o querem fora do cargo – afirmou que a senadora teria defendido interesses da China durante um almoço entre os dois. Kátia, por sua vez, rebateu dizendo que o ministro “insiste em viver à margem da boa diplomacia” e “à margem da verdade dos fatos”.
A senadora foi dura em cobrar a demissão do ministro. “O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal”, afirma Kátia Abreu em nota neste domingo (28).
Vários senadores foram às redes para defender a colega e pedir a demissão de Araújo. Entre eles o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), um dos principais partidos do Centrão. “Lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso”, escreveu Nogueira. Weverton (PDT-MA) disse que “já passou da hora de Ernesto Araújo ser demitido do Itamaraty” e que ele, para se manter no cargo, abre uma guerra de fake news contra senadores.
“Se esse sujeito não sair, fica provado que este país não tem governo”, observou o professor André Káysel, do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (29).
Unanimidade negativa
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), também saiu em defesa da senadora. “A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal”, disse. Na sexta-feira (28), Pacheco já havia dito a Bolsonaro que não terá vida fácil no Congresso com Ernesto Araújo na “condução” da política internacional. A manifestação do presidente no Senado neste domingo foi a terceira intervenção seguida, já que, além da fala da sexta, na véspera já havia dado duro recado. “Muito além da personificação ou do exame sobre o trabalho específico de um chanceler, o que se tem que mudar é a política externa do Brasil”, disse.
Em entrevista à Rádio Brasil Atual, o ex-chanceler Celso Amorim classificou Araújo – representante da corrente do “guru” Olavo de Carvalho no governo Bolsonaro – como uma “unanimidade negativa” no Brasil e no mundo. “É o mínimo de dignidade ele sair. O chanceler está sendo criticado por todos, ele é uma unanimidade negativa”, ironizou.