Imunização

Jornal Brasil Atual Edição da Tarde | 30 de março de 2021

Desigual: Brasil vacina duas vezes mais pessoas brancas quando comparadas com negras

Ouça o áudio:

Levantamento da Agência Pública aponta que para cada duas pessoas brancas vacinas há apenas uma negra - Governo do Estado de São Paulo

Um levantamento da Agência Pública aponta que o Brasil vacina quase duas vezes mais pessoas brancas quando comparadas com negras. Ao mesmo tempo, o país também registra proporcionalmente mais morte entre o povo preto. 

São 3,2 milhões de pessoas que se declaram brancas e que receberam a primeira dose de uma vacina contra a covid-19 contra 1,7 milhão de negras que já foram imunizadas. O levantamento foi feito com as doses aplicadas até o último dia 14 de março. 

Para Olinda do Carmo Luiz, professora colaboradora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), um fator que explica esses números é a expectativa de vida de pessoas negras no Brasil, além do acesso precário aos serviços de saúde. 

"Os dados sobre homicídios mostram como a população negra tem morrido. Morrem mais e têm morrido mais cedo e mais jovens. Também têm mais problemas de saúde. Com isso, a população branca tem maior longevidade. O que acontece quando você estabelece como critério exclusivo a faixa etária para vacinar? O que vai acontecer é que existem mais idosos brancos do que idosos negros. Isso faz com que se tenha uma maior vacinação da população branca. Um outro fator é o acesso aos serviços de saúde e de vacinação. A população negra reside em sua maioria nas periferias da cidade, onde se tem piores condições de vida em geral e piores condições de acesso á saúde", compara Olinda Carmo Luiz, que também integra o Grupo de Trabalho Racismo e Saúde da Abrasco - Associação Brasileira de Saúde Coletiva. 

Para diminuir essa diferença, seria necessário adotar outras estratégias de vacinação no país, que priorizassem grupos em maior situação de vulnerabilidade social, compostos, em maioria, por pessoas negras. É o que aponta Maria José Menezes, bióloga, membro da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo e da Coalizão Negra por Direitos. 

"Essa população é mais pobre e tem menos acesso a atenção primária à saúde. Essa população não uma devida assistência. Essa população tem que ser priorizada, é o princípio da equidade", salienta Maria José.   

A diferença dos números também pode ser observada entre as vítimas da covid-19. Segundo a Agência Pública, o número de mortes entre pessoas negras pela doença é cerca de 10% maior em comparação às pessoas brancas. 

Outro estudo, realizado pela Vital Strategies e pelo núcleo de pesquisa Afro-Cebrap - Centro Brasileiro de Análise e Planejamento - mostra que mortes por doenças, incluindo a covid-19, aumentaram 18% entre brancos no último ano, enquanto entre pessoas negras esse aumento foi de 28%. 
*Com informações de Júlia Pereira

Confira todos os destaques do dia no áudio acima. 

------ 
O Jornal Brasil Atual Edição da Tarde é uma produção conjunta das rádios Brasil de Fato e Brasil Atual. O programa vai ao ar de segunda a sexta das 17h às 18h30, na frequência da Rádio Brasil Atual na Grande São Paulo (98.9 MHz) e pela Rádio Brasil de Fato (online). Também é possível ouvir pelos aplicativos das emissoras: Brasil de Fato e Rádio Brasil Atual.

Edição: Daniel Lamir