Rússia e Venezuela assinaram 12 acordos com compromissos e intercâmbios comerciais para os próximos dez anos, durante a última reunião da Comissão Intergovernamental de Alto Nível (Cian), realizada na última terça-feira (30).
O vice-primeiro ministro russo Yuri Borisov viajou a Caracas, capital venezuelana, para o encontro com a vice-presidenta executiva Delcy Rodríguez e o vice-presidente de economia Tareck El Aisami.
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Além de pactuar um novo contrato para a compra da segunda vacina russa contra a covid-19, a EpiVacCorona, também selaram novos negócios no âmbito energético e militar.
A Venezuela contratou 10 milhões de doses da Sputnik V e agora espera a chegada das primeiras unidades da nova fórmula russa, desenvolvida pelo laboratório Vektor, para realizar testes em laboratório e incluí-la à campanha nacional de vacinação, que até o momento imunizou cerca de 90 mil venezuelanos.
"Temos vantagens porque o laboratório que produz a nova vacina é o mesmo que nos fornece insulina. Temos insulina na Venezuela graças à Rússia", afirmou o presidente Nicolás Maduro.
"Missão cumprida", declarou Borisov ao deixar o país rumo a Cuba.
No âmbito diplomático, junto com a China, o voto da Rússia foi decisivo para evitar a aprovação no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) de uma intervenção militar na Venezuela.
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Os três países também encabeçam a criação do "Grupo de Amigos", uma articulação dentro do organismo multilateral para defender os princípios da carta de fundação das Nações Unidas. Em 76 anos de diplomacia, Caracas e Moscou estabeleceram 264 acordos bilaterais em 20 áreas de cooperação.
Petróleo
A Rússia é o segundo maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro de gás natural. De acordo com o relatório de março da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), os russos começaram 2021 produzindo uma média de 10,6 milhões de barris diários.
A aliança com a Venezuela que possui a maior reserva de petróleo, certificada em 300 bilhões de barris, resulta estratégica para ambas nações: por um lado os russos querem ampliar os seus negócios, por outro os venezuelanos precisam de investimentos para levar sua indústria petroleira, responsável por 90% das exportações do país.
Empresas russas são responsável por 40% das atividades de extração e refino de petróleo da Faixa do Orinoco - onde se concentra a maior parte da reserva petrolífera venezuelana. A parceria foi assinada em 2008, quando o ex-presidente Hugo Chávez criou o Consórcio Petroleiro Nacional, abrindo a região do rio Orinoco a investimentos estrangeiros.
Em maio de 2020, a estatal petroleira russa Rosneft vendeu suas ações na PetroMiranda, PetroMonagas, PetroVictoria, PetroPerijá e Boquerón - subsidiárias da Pdvsa - depois de sofrer sanções dos Estados Unidos. No entanto, a compra foi efetuada por outra empresa russa, a RN-Okhrana-Ryazan.
Ainda do ponto de vista econômico, a Rússia foi o maior comprador do mundo de ouro em 2019 e 2020, investindo cerca de US$ 40 bilhões (R$ 200 bilhões), nos últimos cinco anos, enquanto a Venezuela possui a quinta maior reserva de ouro certificada do planeta.
Os governos russo, venezuelano e chinês promovem a criação de um sistema financeiro alternativo ao sistema Swift, controlado por agentes estadunidenses e por onde são realizadas cerca de 90% das transações bancárias.
Dessa nova parceria surgiu o Petro, a criptomoeda venezuelana.
Parceria militar
A Rússia é o principal fornecedor de tecnologia militar à Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) desde 2006. Por conta dessa relação, a Venezuela é o país latino-americano com o melhor sistema de defesa aéreo da região.
A aeronáutica venezuelana possui à disposição 24 caças modelo Su-30MK2V, além de uma frota com cerca de 30 helicópteros militares (Mi-35M2,Mi-17V5, Mi-26T2), e o sistema anti-mísseis S-300, que foram testados na guerra da Síria para neutralizar ataques aéreos das tropas dos Estados Unidos e do grupo terrorista Daesh.
Na defesa terrestre, a Venezuela conta com 237 tanques blindados do tipo BMP-3M e BTR-80A. Em relação à armamento, a Fanb possui mais de 100 mil fuzis AK-103 e se espera desde 2016 a abertura de uma fábrica Kaláshnikov no território venezuelano, que seria capaz de produzir 25 mil armas e 50 milhões de cartuchos por ano.
Segundo especialistas, o poder de fogo venezuelano seria um dos principais fatores que levou a Casa Branca a não declarar uma guerra convencional contra
Edição: Rebeca Cavalcante