O sonho dos atuais governantes é transformar o Brasil em uma imensa fazenda
O projeto autoritário do governo brasileiro tem como propósito a corrosão da democracia de dentro para fora. Ao minar as instituições e seus alicerces, o objetivo é romper os lastros que equilibram o sistema. É um crime cometido aos poucos, uma injeção letal aplicada em doses diárias.
Essa metodologia tem suporte financeiro de conglomerados empresariais. Conta com apoio de uma parte do legislativo e de membros do judiciário. Fazem vistas grossas, contemporizam, adiam. Não importa a quantidade de cadáveres. Estamos fartos de saber que o modelo é genocida.
Produção de alimentos
A cadeia produtiva das commodities agrícolas fecha os olhos para essa escalada, pois é uma das principais beneficiárias da corrosão das instituições e das estruturas de fiscalização que coíbem desmatamentos e trabalho escravo.
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O sonho dos atuais governantes é transformar o Brasil em uma imensa fazenda, comandada por supremacistas brancos e, de preferência, sem indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais.
Pouco a pouco, o governo abre porteiras e permite o desmatamento desenfreado da Amazônia, do Cerrado e do Pantanal, focos prioritários para empreendimentos agrícolas.
A cadeia produtiva do agronegócio é extremamente concentrada, controlada globalmente por 87 empresas. Quatro delas controlam 70% do mercado mundial de commodities agrícolas: Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company.
Juntas, elas são conhecidas como ABCD. A última é europeia, as três primeiras são norte-americanas.
O futuro das áreas verdes do planeta depende do controle sobre a sanha expansionistas dessas corporações. No Brasil, quando o assunto é desmatamento ou invasão de terras indígenas, os responsáveis estão, em boa parte dos casos, vinculados à cadeia produtiva dessas quatro corporações.
Cúpula do Clima
Por conta do desmonte intencional das estruturas que controlam o desmatamento, o Brasil tem muito pouca força interna para evitar a escalada dos crimes ambientais.
Ainda assim, dois indicadores podem se tornar favoráveis: a convocação de uma cúpula do clima em 22 de abril, liderada pelos Estados Unidos, e a atual agenda verde chinesa, que busca reduzir as emissões que contribuem para as mudanças climáticas, conforme o atual plano quinquenal, que prioriza a questão ambiental.
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Em relação aos americanos, o presidente Joe Biden vai exigir um compromisso claro do Brasil em relação a Amazônia, o que até agora não foi feito pelo governo Bolsonaro.
Um indicador importante, que pode aumentar a pressão contra os desmatadores, foi dado em fevereiro. O fundo escandinavo Danske Bank, que administra cerca de R$ 1,3 trilhão, excluiu três das quatro empresas do grupo ABCD de parte de sua carteira de investimento. Cargill, Bunge e ADM foram excluídas devido ao envolvimento com o desmatamento no Brasil. Esse tipo de iniciativa pode fazer a diferença.
No próximo artigo, vamos detalhar o papel dos chineses e dos norte-americanos na contenção do desmatamento no Brasil.
* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Leandro Melito