Quem morre?

Setores de vigilância, cargas e hospitais lideram ranking de óbitos entre 2019 e 2020

Durante a pandemia, número de mortes de trabalhadores nas três áreas saltou em média 50% em relação ao ano anterior

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O levantamento não aponta a causa da morte e informa apenas que aquele óbito encerrou um contrato formal de trabalho - Evaristo Sa/AFP

Os setores de segurança e vigilância, transporte de cargas e atendimento hospitalar concentram o maior número de desligamentos por morte entre 2019 e 2020, de acordo com dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que monitora admissões e demissões de trabalhadores com carteira assinada no país. Os dados foram publicados na newsletter Lagom Insights, da Lagom Data.

Apesar de o levantamento abranger o primeiro ano da pandemia do novo coronavírus, os óbitos têm causas diversas, além da covid-19. 

Veja, no quadro abaixo, a evolução no número de mortes por atividade no mercado formal de trabalho brasileiro, de 2019 para 2020.


Os dados não identificam as causas das mortes / Lagom Data, sobre números do Caged 2020

 
O Caged não identifica a causa da morte, apenas que aquele óbito encerrou um contrato formal de trabalho. Entre as 15 atividades com maior número de mortes – que também estão entre as ocupações que empregam mais pessoas no país –, o setor de vigilância e segurança privada registrou 51% a mais de óbitos entre 2019 e 2020.

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Esse setor inclui empresas que contratam funcionários que lidam diretamente com o público durante a pandemia causada pelo novo coronavírus. São responsáveis, por exemplo, pela medição de temperatura na entrada de estabelecimentos. Em abril do ano passado, a categoria já exigia obrigatoriedade de equipamento de proteção. 

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No transporte de cargas, que não paralisou suas atividades desde março de 2020, data de início da pandemia no país, as mortes de trabalhadores aumentaram 46% em 2020 em relação a 2019.

Segundo informações fornecidas por associações empresariais do segmento, houve redução de trabalho em 2020, o que significa que houve um aumento proporcional ainda maior nas mortes por funcionário em serviço.

O acréscimo proporcional nesse setor foi mais alto até do que o registrado no atendimento hospitalar, de 42%. Os profissionais que trabalham em hospitais, da recepção à cirurgia, são os trabalhadores mais expostos à pandemia.

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Na construção, outra atividade econômica que não foi afetada por medidas de restrição de circulação de pessoas, as mortes aumentaram mais de um terço (36,25%) entre 2019 e 2020.

Um aumento um pouco menor que o dos trabalhadores do transporte público (36,63%). Durante a pandemia, os que atuam na categoria estão expostos de várias maneiras, especialmente em ônibus lotados e mal ventilados, o que acaba por facilitar o contágio.

Já no setor de restaurantes e similares, um dos mais atingidos por restrições de funcionamento durante a pandemia, o número de mortes teve alta menor, de 13%.

Edição: Poliana Dallabrida