A Venezuela enviou uma carta ao secretário geral da Organização das Nações Unidas, ao encarregado de negócios no país e ao presidente do Conselho de Segurança pedindo que o organismo intervenha no conflito armado na fronteira com a Colômbia.
Desde o dia 20 de março, a Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb) enfrenta uma invasão de grupos armados irregulares colombianos no estado de Apure, ao sul do território venezuelano.
Até o momento, o confronto gerou 17 mortos (nove colombianos e oito militares venezuelanos), 39 feridos e 33 processados por um tribunal militar venezuelano.
Além disso, segundo o ministério de Relações Exteriores da Colômbia e autoridades venezuelanas cerca de 3,5 mil venezuelanos foram obrigados a cruzar o rio Arauca.
Desde o último domingo (4), a Fanb dispõe de barcos humanitários para viabilizar o retorno das famílias que estão albergadas no município de Araquita (Colômbia) para La Victoria (Venezuela).
O prefeito do município fronteiriço venezuelano, José Romero, afirma que autoridades colombianas impedem os cidadãos venezuelanos de deixar os abrigos, sob justificativa de que devem cumprir quarentena.
"É contraditório como começam a criar meios para manter a população em Arauquita. Esperamos que as pessoas não se deixem ser usadas para esse show midiático, comandando pelo governo de Iván Duque", declarou.
El Alcalde del Municipio Paez, José Maria Romero, lo dejó claro desde el mismo lugar de los acontecimientos: Colombia pretende seguir jugando al show mediático, que aún con todo su empeño, no han podido posicionar su matriz en Colombia, ni en Venezuela ni internacionalmente. pic.twitter.com/2gQBhZaQ2O
— Vladimir Padrino L. (@vladimirpadrino) April 4, 2021
Planos conjuntos
"Colômbia decidiu retomar a guerra", declarou o embaixador venezuelano Samuel Moncada em carta dirigida a António Guterres, secretário geral do organismo.
O confronto teria sido provocado por dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP): a frente de combate 10 e o grupo a mando de "Gentil Duarte" seriam os dois grupos que medem forças para controlar a zona do departamento de Arauca, que compartilha fronteira com o estado venezuelano de Apure.
Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (5), o vice-presidente de segurança e ministro de Defesa, General Vladimir Padrino López afirmou tratar-se de uma estratégia de guerra terceirizada pela Colômbia.
“Depois que os Acordos de Paz foram rompidos por falta de políticas públicas do governo, houve muitas cisões nos grupos armados colombianos. Não é falta de aptidão. É um interesse de que o conflito permaneça para manter o acesso a recursos e tecnologia militar oferecida pelo imperialismo”, denuncia.
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Ainda segundo o ministro, foram descobertos seis acampamentos de grupos irregulares colombianos em território venezuelano, desativadas sete minas e identificadas outras seis minas explosivas.
Em 2013, a Venezuela foi considerada um país livre de minas terrestres pelas Nações Unidas. Do outro lado da fronteira, a situação é bem distinta. Entre janeiro e março deste ano, 104 colombianos foram vítimas de minas explosivas, segundo relatório do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Desde a semana passada, os venezuelanos pedem ajuda das Nações Unidas para desarmar as minas terrestres.
Do lado colombiano, o presidente Iván Duque assegurou que enviaria 2 mil soldados para reforçar a presença oficial na fronteira. Segundo a Fanb, o exército colombiano protege os paramilitares que conseguem fugir da Venezuela.
O presidente Nicolás Maduro, quem também é o comandante-chefe das Forças Armadas, ordenou a criação de uma zona operativa especial temporária para a qual serão enviadas 94 tropas especiais de todo o país. "Estou seguro de que vamos ganhar essa batalha em todas as frentes", afirmou Padrino López.
Também foram determinadas restrições à mobilidade e toque de recolher em outros três municípios da região do alto Apure: Paez, Romulo Gallegos e Muñoz.
Edição: Leandro Melito