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Profissão: Baiano

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"Cheguei hoje da Bahia, sou amigo de Gil, de Caetano... Tô com vontade de tomar uma cerveja mas não tenho dinheiro, pode pagar uma pra mim?" E conseguia - Reprodução
Viva a Bahia, terra de gente boa... e onde o Bozo perdeu a eleição em 2018

Eu sempre digo que uma coisa que mudou muito, para melhor, o comportamento dos paulistanos foi quando começou uma onda de viajar pra Bahia, isso foi lá pelo início dos anos 1970.

Se alguém acha hoje que paulistano é meio fechado, precisa saber como era antes.

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Quando cheguei aqui, com 16 anos de idade, em 1963, tinha a impressão que os paulistanos eram iguais aos ingleses: só conversavam com a gente se fossem formalmente apresentados.

Eu era acostumado numa cidadezinha simplória em que todo mundo se conhecia e, quando aparecia alguém diferente, a gente queria logo conhecer a pessoa, conversar com ela, aprender novidades.

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Mas aqui não era assim.

Quando tentava conversar com algum sujeito, parecia que estava cometendo um desatino, ele saía de perto com cara de desagrado.

E olha que na época eu não era tão feio como sou hoje... rê-rê...

Era um rapazinho trabalhador, com roupas simples, mas limpas e bem arrumadas.

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Pois é, aí virou moda viajar pra Bahia, principalmente jovens.

E começaram a ver que a vida levada solta, com pessoas conversando com todo mundo e fazendo amizade, era bem melhor.

E se antes havia preconceito contra baianos até de classe média, a coisa virou.

Em vez de falar mal dos baianos, um monte de gente queria ser baiano.

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Aliás, um baiano que frequentava o mesmo boteco que a minha turma pegou apelido de “Baiano Profissional”.

Andava com um violão nas costas e chegava nos frequentadores do bar, falando com aquela mansidão:

- Cheguei hoje da Bahia, sou amigo de Gil, de Caetano... Tô com vontade de tomar uma cerveja, mas não tenho dinheiro, pode pagar uma pra mim?

E conseguia.

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Uma noite eu estava em outro bar e apareceu um cara com um violão nas costas falando do mesmo jeito e sotaque:

- Tô chegando da Bahia... Sou amigo de Gil, de Caetano, de Gal... Quero tomar uma cerveja mas tô sem dinheiro...

Só que eu conhecia esse cara. Ri e falei:

- Ô, cara, você não é aquele gaúcho que estudava Ciências Sociais na USP?

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Ele levou um susto, falou:

- Bah, tchê... desculpe...

E saiu andando rápido.

Só sei que até gaúcho queria se passar por baiano... Viva a Bahia, terra de gente boa... e onde o Bozo perdeu a eleição em 2018.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Daniel Lamir