PANDEMIA

Adultos de 30 a 59 anos concentram novos casos de covid e mudam perfil dos internados

Nessa faixa etária, infecções aumentaram entre 525 e 626% nos três primeiros meses de 2021, segundo estudo da Fiocruz

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“Eles conseguem obter melhor resposta ao tratamento, o que é ótimo. Por outro lado, são pessoas que tendem a ficar mais tempo internadas", explica pesquisador da Fiocruz - Nelson Almeida/AFP
O Estado deve garantir mecanismos de proteção social para que as pessoas possam ficar em casa

Em 2021, a população mais atingida por novos casos de covid-19 no Brasil tem entre 30 e 59 anos, segundo estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Em março, houve um aumento de 565,08%, 626% e 525,93% no casos entre as pessoas de 30 a 39 anos, 40 a 49 anos e 50 a 59 anos, respectivamente, com base nos dados dos primeiros meses deste ano do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) sobre as Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRGA), sistematizados pela Fiocruz.

A instituição aponta para um deslocamento da pandemia em direção aos mais jovens, o que pode implicar no colapso do sistema de saúde.

Segundo Raphael Guimarães, pesquisador do Observatório Covid-19 Fiocruz, a população dessa faixa etária, por ter menos comorbidades, requer maior permanência nos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

“Eles conseguem obter melhor resposta ao tratamento, o que é ótimo. Por outro lado, são pessoas que tendem a ficar mais tempo internadas. E esse tempo maior de internação acaba comprometendo a disponibilidade dos leitos”, explica Guimarães.

“Um maior tempo médio de internação vai requerer mais leitos, e a gente tem um recurso finito de leitos e profissionais para trabalhar com terapia intensiva. Isso é mais um fator que pode colaborar com o colapso que vivemos hoje no SUS e na rede privada. O colapso é da saúde de uma forma geral”, afirma.

Para o pesquisador, a ideia de que a pandemia não seria um problema para os mais jovens contribuiu para esse cenário. 

“Existia um imaginário, que não é correto, de que só as pessoas idosas evoluíam com gravidade, e que isso não seria um grande problema entre os jovens. Esse diagnóstico, que descrevemos como rejuvenescimento [da pandemia], descreve um pouco essa situação”. 

O pesquisador também afirma que a população mais atingida pela pandemia atualmente é justamente formada por aqueles que precisam sair de casa para garantir a renda financeira.

“[São pessoas] Sem auxílio emergencial, que estão procurando na rua uma oportunidade de emprego. O que acontece é que elas estão aglomerando em locais muito inapropriados, como é o caso do transporte público”, aponta.

A curto prazo, avalia Guimarães, o Estado deve garantir as condições mínimas para a aplicação das medidas de combate ao vírus, como o isolamento social. “Se, por um lado, há a necessidade de incentivar que as pessoas fiquem distanciadas, por outro reforçamos que o Estado precisa garantir esses mecanismos de proteção social para que essas pessoas mais vulnerabilizadas possam ficar em casa”.

Nos últimos 12 meses, o preço dos alimentos aumentou 15%, praticamente o triplo da inflação no período, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Paralelamente, o auxílio emergencial deixou de ser pago e voltou, posteriormente, com valores expressivamente baixos: entre R$ 150 e R$ 375, de abril a julho de 2021, dependendo da composição familiar de cada beneficiário. Em 2020, o valor variou entre R$ 300 e R$ 1.200.

Além de políticas de Estado que garantam condições básicas para a realização de isolamento social, a vacinação em massa também é apontada como fator determinante para a reversão do quadro da pandemia no país.

No ritmo atual de vacinação, será necessário cerca de quatro anos para imunizar toda a população brasileira, segundo o microbiologista da Universidade de São Paulo (USP), Luiz Gustavo de Almeida, em entrevista à CNN

Segundo dados do consórcio de veículos de imprensa, até esta segunda-feira (5), o Brasil aplicou cerca de 25 milhões de doses, sendo que 19.762.485 pessoas receberam a primeira dose, cerca de 9,4% da população brasileira, e 5.531.159 a segunda, 2,6%. No total, são necessárias cerca de 420 milhões de doses.

Na última terça-feira (7), o país registrou 4.195 mortes por covid-19 nas últimas 24h, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). É o número mais alto de mortes em um dia desde o início da pandemia, totalizando 336.947 mortes pela doença no país. 

Foram registrados 86.979 novos casos de covid-19 no último período, totalizando 13.100.580 infectados pelo vírus no país.

Edição: Poliana Dallabrida