A segunda crise da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) com o reaparecimento da geosmina, em um intervalo de um ano, ganhou novos elementos nos últimos dias. Ao tentar eliminar a substância que provoca cheiro e gosto na água distribuída, a Cedae se viu em uma nova problemática.
Na última quarta-feira (7), a estatal, que vem sendo alvo do governo federal para ser privatizada apesar de gerar lucro de R$ 1,3 bilhão ao ano para o estado do Rio, foi acusada de estar despejando Lantânio - apontado supostamente como um metal pesado - no tratamento para conter a geosmina. A substância tem concentração de 5% no produto Phoslock, utilizado pela companhia no tratamento iniciado nesta semana.
No entanto, segundo a Cedae, o lantânio não é um metal pesado, mas um tipo de terra rara que é usada inclusive em remédios para consumo humano. A companhia nega também que tenha havido lançamento de argila lantânica na água tratada e distribuída à população.
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"Antes de obter autorização do Inea [Instituto Estadual do Ambiente], a Companhia analisou dezenas de artigos no mundo inteiro que atestavam que o uso do produto em meios aquáticos não apontava toxicidade", afirmou a companhia em comunicado.
Filtro purificador
Em nota, o Conselho Regional de Química explicou que o Phoslock, utilizado pela Cedae como remediador físico-químico na água, atua na redução do fósforo, elemento essencial para a proliferação da geosmina. O produto interrompe a eutrofização, nome dado ao processo em que a água recebe muitos materiais orgânicos e ocorre a indução de produção da geosmina, de algas e plantas aquáticas.
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Autor de uma tese de doutorado sobre contaminação de solos por metais pesados, o engenheiro agrônomo Sael Sánchez Elias, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), explicou ao Brasil de Fato que o produto Phoslock exerce o papel de um filtro filtro purificador que pode "sequestrar" o fosfato presente na água, o que ajuda no controle das algas e da geosmina.
"Na Austrália, que é um país bem rigoroso com o uso de químicos e metais, esse produto está certificado para o tratamento de água e qualificado como seguro", afirma o pesquisador.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento e Meio Ambiente do Rio de Janeiro e Região (SINTSAMA-RJ), Humberto Lemos, a informação equivocada divulgada na imprensa sobre o uso do produto gera pânico na população em plena pandemia da covid-19 e "justifica o injustificável, que é entregar a Cedae à iniciativa privada", além de não abordar o problema em profundidade.
"A questão da água contaminada envolve municípios, estado e a União. A água está vindo muito poluída, os rios não estão sendo tratados e há um problema agudo de falta de saneamento básico. Na Baixada Fluminense, a Cedae só tem convênio de tratamento de esgoto com Nova Iguaçu. As demais prefeituras não estão cuidando disso e o esgoto que chega de outros lugares tem sido tratado no Guandu", explica Lemos.
Degradação
Para Alexandre Pessoa, engenheiro sanitarista e professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz (EPSJV/Fiocruz), o problema central está na degradação do maior manancial do estado, que abastece de 80% da população fluminense.
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"Isso revela um déficit de esgotamento sanitário na Baixada Fluminense e a necessidade de maior controle dos efluentes industriais", afirma o pesquisador da Fiocruz, reiterando a opinião do presidente do SINTSAMA-RJ.
Pessoa sustenta a tese de que as universidades devem desenvolver pesquisas, inclusive para informar a população, a Cedae, bem como o Programa de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o que possa interferir na qualidade da água distribuída.
"O mais importante para uma ação estruturante é que a Cedae desenvolva um plano operacional de emergência e contingência da estação de tratamento de água diante da eutrofização, com ações de curto, médio e longo prazo, podendo contar com apoio das instituições de pesquisa para que tenhamos água potável e uma Cedae pública, de qualidade, com transparência e controle social. O direito humano à água e à informação são determinantes para o direito à saúde pública", defende o professor e pesquisador da Fiocruz.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse