Imunização

Vacina contra a gripe: médica tira dúvidas sobre grupos prioritários e como proceder

Campanha segue até 9 de julho e ocorre de forma paralela à aplicação de doses contra a covid-19

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Vacinação é fundamental para prevenir formas graves da influenza; doença mata entre 800 e 1 mil pessoas no Brasil a cada ano - Tânia Rêgo/Agência Brasil

O início da campanha de vacinação contra a gripe, na última segunda-feira (12), trouxe consigo uma série de dúvidas comuns à população, especialmente neste cenário de pandemia. A mobilização para aplicar as doses segue até 9 de julho nos postos de saúde de todo o Brasil e ocorre de forma paralela à imunização contra a covid-19. 

Não há precedente para esse tipo de situação no país, o que impõe a necessidade de esclarecimento dos diferentes grupos-alvo para que se garanta a prevenção da forma eficaz dessas duas doenças. 

::Confira o calendário e os grupos prioritários da vacinação contra a gripe::

Para responder a questões importantes sobre o tema, o Brasil de Fato ouviu a pediatra e infectologista Ana Paula Burian, diretora da Regional Espírito Santo da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Primeiro, a profissional esclarece que é preciso diferenciar gripe de resfriado: “A primeira é causada pelo vírus da influenza e tem uma gravidade maior. Se ela acomete pessoas de risco, há chance de necessidade de internação, complicação e até óbito. Já o resfriado é aquela forma mais leve, de nariz escorrendo, febre baixa e que não tem o risco de óbito como a gente vê na influenza”.

A gripe mata entre 800 e 1.000 pessoas no Brasil a cada ano, e infecta um percentual que varia de 20% a 30% do público infantil e 10% da população adulta.

Calendário e grupos

De acordo com o ministério da Saúde, a ideia é vacinar, em três etapas distintas, uma total de 80 milhões de pessoas pertencentes a grupos prioritários. Na primeira fase, que vai até 10 de maio, a mobilização foca em 25 milhões de pessoas que compõem o segmento de crianças com idade entre 6 meses e 6 anos, gestantes e puérperas que estejam no período de até 45 dias após o parto.

A primeira fase também inclui trabalhadores da saúde e indígenas. Já a segunda etapa, de 11 de maio até 8 de junho, mira idosos com mais de 60 anos e professores, abarcando um contingente de 33 milhões de vacinados.

“Os idosos acima de 60 anos já se enquadram no grupo de risco e, quanto mais idosos, mais risco eles têm. No meio disso, a gente tem idades intermediárias em que algumas populações terão mais risco momentaneamente. Gestantes têm muito risco e, em 2009, 2010, a gente teve muito óbito de gestante e puérpera por H1N1”, ressalta a médica da SBim. 

Na sequência, a terceira fase ocorrerá de 9 de junho e 9 de julho e deve alcançar 22 milhões de pessoas como público-alvo. Compõem esta ultima etapa pessoas com comorbidades ou deficiência permanente; membros das Forças Armadas, das áreas de segurança e de salvamento; funcionários do transporte coletivo rodoviário e caminhoneiros.

Trabalhadores portuários, funcionários do sistema penitenciário, população carcerária e adolescentes que cumprem medidas socioeducativas também integram esse rol. Tais categorias são definidas e caracterizadas de acordo com orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS).  

Vacina da gripe X vacina contra covid-19

Ana Paula Burian assinala que o cenário atual exige atenção para se observar as orientações relativas às imunizações contra a influenza e contra o novo coronavírus. Ela destaca que é importante estabelecer intervalo entre elas, para garantir a resposta imunológica do organismo às fórmulas.

“Lembrando que qualquer doença que comprometa o pulmão neste momento é muito importante. A gente tem que ter 14 dias de intervalo antes e depois da vacina de covid com qualquer outra vacina, inclusive a da gripe”. 

De acordo com o ministério da Saúde, a prioridade, neste momento, nos casos em que a pessoa pertença aos públicos-alvo das duas campanhas, deve ser dada à imunização contra o novo coronavírus.

A pandemia já matou mais de 355 mil brasileiros e infectou um contingente que ultrapassa a marca dos 13,5 milhões. O mau desempenho do governo Bolsonaro na condução do problema vem chamando a atenção do mundo, e o país passou a ser considerado o novo epicentro da crise sanitária.

A orientação do ministério é a de que pacientes com qualquer tipo de quadro infeccioso relacionado à covid adiem a aplicação da dose contra a influenza. A vacinação, nesse caso, deve ser protelada até a total recuperação clínica do doente e pelo menos depois de quatro semanas do início dos sintomas ou do teste positivo de PCR em pessoas que não apresentam sintomas da doença.

Pacto coletivo

Em meio ao contexto de avanço do negacionismo científico e ataques à vacinação, entidades de Saúde, pesquisadores e profissionais da área têm reforçado o coro sobre o papel da imunização dentro de uma perspectiva de “pacto coletivo”.

“Quando a gente diz que não pode baixar a cobertura vacinal, é porque, no meio de nós, haverá pessoas que, por algum problema de saúde ou alergia a uma substância específica, ou não vão poder tomar vacina ou não vão responder bem à vacina. Se todo o entorno está vacinado, a doença não chega nela, por isso a importância de todo mundo se vacinar, todas as famílias”.

Desde quando surgiram, no século XVIII, as vacinas têm livrado a humanidade dos males causados por uma série de doenças. A varíola, por exemplo, foi erradicada por meio de imunização desde 1977. Três anos depois, a OMS confirmou a eliminação da enfermidade.

No Brasil, além da varíola, a luta contra a poliomelite também atingiu esse nível de sucesso. O último caso registrado da doença se deu em 1989 e, em 1994, a OMS certificou o país pela eliminação do mal.

Edição: Vinícius Segalla