A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) começou a investigar a suposta entrega de uma quantidade menor do que a informada dos imunizantes contra a covid-19 CoronaVac e AstraZeneca. Em nota, a agência afirmou que, “por não haver risco de óbito, de causar agravo permanente e nem temporário”, a situação é considerada de “baixo risco”.
A apuração começou após pelo menos 12 estados relatarem o recebimento de lotes de ampolas com rendimento menor a dez doses. Cada ampola deve ser o suficiente para aplicar 10 doses de 0,5 ml cada, portanto, deve ser no mínimo 5,7 ml, tendo em vista a necessidade de uma quantia excedente de segurança. Segundo os estados, cada ampola têm sido suficiente para aplicar em média sete doses.
Para os estados, uma possível explicação foi a autorização feita pela Anvisa para o uso de ampolas de 5,7 ml. Até antes de março, eram utilizadas ampolas com 6,2 ml de imunizante. Essa mudança teria diminuído a quantia excedente de segurança.
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Outro motivo apontado é a dificuldade de acesso a seringas de 1 ml, consideradas de alta performance. Lucas Lima de Moura, diretor de qualidade do Instituto Butantan, responsável pela vacina CoronaVac, produzida em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac, afirmou à imprensa que “o que é preconizado é a seringa de 1 ml, é a que a gente usa, com agulha intramuscular, mas a gente sabe que não é o que todo mundo pratica. Não tem abastecimento para todo mundo usar esse tipo de material, então isso pode acarretar algum tipo de perda inerente ao processo”.
Diante dos relatos, o Butantan estuda utilizar um QR Code na bula da vacina CoronaVac com orientações em vídeo para a extração de dez doses de cada ampola. “A bula vai ser atualizada, a gente está pensando em colocar um QR Code para facilitar. Em qualquer lugar do Brasil, com um celular com conexão, o profissional de saúde vai mirar para o código e ver um vídeo demonstrando a correta forma de se fazer a extração”, disse Moura.
Reclamações dos estados
Segundo informações levantadas pelo Estadão, o governo baiano recebeu 96 reclamações de 31 cidades desde o dia 19 de março, sendo 84 referentes ao imunizante CoronaVac e 12 da vacina criada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com a Universidade de Oxford com a biofarmacêutica britânica AstraZeneca. Em áudio divulgado pelo governo, Fábio Vilas-Boas, secretário estadual da Saúde, afirmou que o erro é do envasador, o Butantan.
No Rio Grande do Norte, foram identificadas reclamações em 76 municípios que teriam identificado 3.284 doses a menos. No Espírito Santo, a Secretaria de Saúde informou que as ampolas precisam ser de pelo menos 6 ml, uma vez que as seringas disponíveis no mercado brasileiro implicam em uma perda técnica. “De nada adiantará o Instituto Butantan colocar em bula que deve ser utilizada seringa de alta performance, pois não haverá disponibilidade no mercado do quantitativo necessário”, informou.
O que mais causa trombose: vacina ou covid?
Com o abandono do uso da vacina da AstraZeneca pela Dinamarca, após relatos de coágulos sanguíneos em pessoas que receberam o imunizante, muita gente vem colocando a eficácia da vacina em xeque.
No entanto, até o dia 4 de março, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) registrou 222 casos de trombose, decorrente da presença de coágulo sanguíneo, entre 35 milhões de vacinados, ou seja, um caso a cada 175 mil imunizados, o que é considerada uma incidência baixíssima e, por isso, não deveria justificar o abandono do imunizante.
Um estudo britânico recente, publicado nesta quinta-feira (15), demonstrou, inclusive, que há mais riscos de aparecimento de coágulos sanguíneos cerebrais em pacientes com covid-19 do que entre aqueles que foram imunizados.
De acordo com a pesquisa, a trombose venosa cerebral ocorreu em 39 pessoas dentro de um universo de 1 milhão de infectados. Já os números da EMA mostram que 5 entre 1 milhão de imunizados tiveram trombose.
"O risco de ter um [TVC] após a covid-19 parece ser substancialmente e significativamente maior do que após receber a vacina Oxford-AstraZeneca", disse Maxime Taquet, do Departamento de Psiquiatria de Oxford, em coletiva de imprensa.
Na mesma linha, John Geddes, diretor do NIHR Oxford Health Biomedical Research Center, disse que a “importância desta descoberta é que ela a traz de volta ao fato de que esta é uma doença realmente horrível com toda uma variedade de efeitos, incluindo aumento do risco de TVC [trombose venosa cerebral]”.
Alta imunidade em idosos vacinados
Uma outra notícia a se comemorar: as vacinas da AstraZeneca e da farmacêutica Pfizer induzem a uma reação imune alta em idosos logo após a aplicação da primeira dose, de acordo com um estudo publicado na revista científica The Lancet, do consórcio UK Coronavírus Immunology, formado por especialistas de aproximadamente 20 instituições. A pesquisa utilizou amostras de sangue de idosos britânicos entre 80 e 99 anos: sendo que 76 deles receberam uma dose da Pfizer e 89, da AstraZeneca.
Do universo amostral, 93% dos imunizados, com apenas uma dose da Pfizer, criaram anticorpos em um intervalo de cinco a seis semanas após a aplicação. Daqueles que receberam a primeira dose da AstraZeneca, 87% desenvolveram os anticorpos no mesmo período.
“Até onde sabemos, esse estudo é o primeiro do tipo a comparar as respostas de anticorpos e células T após uma única dose da vacina Pfizer ou AstraZeneca em determinada faixa etária”, afirmou Paul Moss, professor de hematologia da Universidade de Birmingham e líder do estudo, ao jornal britânico The Guardian.
A pesquisa mostra que a decisão do governo britânico de aplicar a segunda dose na 12º semana após a aplicação da primeira é segura. Anteriormente, o período era de três semanas. “É importante entender como a resposta imunológica gerada pelas vacinas contra a covid-19 varia com a idade, o atraso entre as doses e o tipo de vacina administrada. (...) As descobertas são tranquilizadoras porque muitos países, incluindo o Reino Unido, optaram por adiar a administração de segundas doses”, afirmou Moss.
No Brasil, o intervalo da aplicação entre as duas doses é de 8 a 12 semanas.
Vacinação no Brasil
De acordo com o último balanço do consórcio de veículos de imprensa, até às 20h desta quinta-feira (15), 25.460.098 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19. O número representa 12,02% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em apenas 8.558.567 pessoas, ou seja, 4,04% da população. No total, 34.018.665 doses foram aplicadas.
Na quarta-feira, os percentuais foram de 11,79% para a população do país que recebeu a primeira dose e 3,84%, a segunda dose. O ritmo ainda é considerado lento por especialistas.
Ao mesmo tempo, o Brasil registrou, nesta quinta-feira (15), 3.560 mortes nas últimas 24 horas, totalizando 365.444 vítimas desde o início da pandemia, de acordo com Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass). Os dados, no entanto, não incluem os registros do Ceará, que não informou o número de óbitos e contaminados por problemas no processamento de dados.
A média móvel de mortes – que calcula a média de óbitos entre os últimos sete dias – é de 2.917, considerada estável desde o dia 30 de março, ainda que em níveis expressivamente elevados.
Em relação ao número de novos casos, foram registrados 73.147 infectados no último período, acima da atual média móvel de 66.689. Desde o início da pandemia, 13.746.681 brasileiros foram infectados pelo vírus.
Edição: Vinícius Segalla