Um carregamento com 3 mil litros de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção da vacina contra a covid-19 CoronaVac chegou ao amanhecer desta segunda-feira (19) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, de Pequim, na China.
O insumo possibilitará o envase de 5,3 milhões de doses do imunizante produzido pelo Instituto Butantan em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac.
Momentos antes da aeronave pousar em solo brasileiro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), publicou a notícia em suas redes sociais.
“Estou aqui no Aeroporto Internacional de Guarulhos para receber mais uma carga de insumos da vacina do Butantan, a vacina do Brasil, a vacina da vida (...) São mais 5 milhões de brasileiros que serão vacinados com os insumos que estão chegando”, afirmou o tucano.
O envase do imunizante CoronaVac estava suspenso desde o fim de março deste ano, devido à escassez de matéria-prima. Agora, com o novo carregamento, a situação deve ser normalizada entre o fim deste mês e o começo de maio.
Também com as 5,3 milhões de doses ainda a serem entregues, o Instituto Butantan irá atingir a quantidade prometida no primeiro contrato com o Ministério da Saúde: 46 milhões de doses.
Apesar de o acordo prever a entrega completa até o fim de abril, com os atrasos no recebimento do insumo, a data pode mudar.
Na última quarta-feira (14), o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que, realizada a entrega das doses do primeiro contrato, o órgão iniciará a entrega das doses previstas no contrato seguinte: 54 milhões de doses adicionais.
Vacinação do Brasil
De acordo com o último balanço do consórcio de veículos da imprensa, até às 20h deste domingo (18), 26.180.254 pessoas receberam a primeira dose da vacina, o que corresponde a 12,36% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em 9.594.276 pessoas (4,53% da população). No total, 35.774.530 doses foram aplicadas.
Os números mostram que o ritmo de vacinação continua lento. Mas a situação deve mudar no segundo semestre deste ano, quando a velocidade de entrega de insumos deve acelerar.
Também há a perspectiva do desenvolvimento de vacinas integralmente nacionais, como a ButanVac, do Instituto Butantan, a Versamune, desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), e o imunizante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O estudo da vacina desenvolvida pela UFMG, em parceria com o Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), concluiu a etapa de prova de conceito com resultados “bastante animadores”.
A fase indica se a vacina em desenvolvimento tem potencial para produzir proteção contra o novo coronavírus. Agora, a pesquisa segue para os estudos pré-clínicos, com testes em macacos e, depois, em humanos, o que deve ocorrer ainda em 2021.
Um dos pesquisadores participantes, Ricardo Gazzinelli afirmou que, no decorrer de 2020, foram utilizadas diversas formas para a produção da vacina.
A que se mostrou mais viável foi a técnica de fusão de duas proteínas. “Usamos uma proteína recombinante (Spyke) e proteína do coronavírus. Fizemos, então, uma proteína, que estamos chamando ‘quimera’, que é a junção dessas duas proteínas em um único antígeno”, afirmou o pesquisador.
Na mão contrária
Em movimento paralelo, mas contrário, ao dos governadores e institutos estaduais, a má-gestão do presidente Jair Bolsonaro sobre o fluxo de insumo auxiliou para o quadro de escassez de doses.
Na última quarta-feira (14), quatro capitais brasileiras, Salvador, Curitiba, João Pessoa e Rio Branco, chegaram a suspender a imunização da população com a primeira dose contra o novo coronavírus por falta de vacina.
Conforme revelou o jornal Folha de S. Paulo na última sexta-feira (16), a paralisia do presidente levou o governo chinês a cobrar uma posição do governo Bolsonaro para liberar insumo à vacina, ainda em dezembro de 2020.
De acordo com um ofício da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) enviado a Flávio Werneck, assessor especial para assuntos internacionais do então ministro da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, no dia 11 de dezembro de 2020, o Escritório de Vacinas do Governo da China exigia uma manifestação da gestão brasileira.
"Bio-Manguinhos vem solicitar o apoio deste ministério no processo de importação de 90 'criovaults' da substância ativa, em função de exigência, por parte do governo da República da China, de manifestação de órgão competente do governo federal do Brasil", afirmou Maurício Zuma, diretor de Bio-Manguinhos, em ofício.
Zuma disse ainda que o governo brasileiro deveria atestar "ciência da importação e destinação a ser dada pelo importador, em função da emergência sanitária em que o país se encontra".
O primeiro carregamento com IFA chegou no Brasil, no entanto, somente no dia 6 de fevereiro, cerca de dois meses após a cobrança da Fiocruz e do governo chinês, e foi suficiente apenas para 2,8 milhões de doses.
Embates com a Pfizer
Esta, porém, não foi a primeira vez que o governo Bolsonaro dificultou o acesso do Brasil às vacinas. No dia 23 de janeiro, a Presidência divulgou uma nota criticando publicamente o laboratório farmacêutico Pfizer por cláusulas impostas para comercialização do imunizante.
Uma das medidas autorizava o governo brasileiro a assumir responsabilidade sobre possíveis efeitos adversos causados pelo imunizante – as cláusulas que Bolsonaro considera “abusivas” estão previstas em recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e se aplicam a imunizantes utilizados no Brasil há décadas.
::Sete vezes em que Bolsonaro e seus aliados contribuíram para a falta de vacinas::
“Causaria frustração em todos os brasileiros [comprar as 70 milhões de doses oferecidas pela Pfizer em agosto], pois teríamos (...) que escolher, num país continental com mais de 212 milhões de habitantes, quem seriam os eleitos a receberem a vacina”, argumentou o Ministério da Saúde, em janeiro.
Na época, Bolsonaro afirmou que "na Pfizer, está bem claro no contrato: 'nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral'. Se você virar um jacaré, é problema de você. Não vou falar outro bicho aqui para não falar besteira. Se você virar o super-homem, se nascer barba em alguma mulher aí ou um homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso".
Pandemia no Brasil
Segundo dados do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass), o Brasil registrou 1.657 mortes por covid-19, somando 373.335 óbitos desde o início da pandemia.
O número, no entanto, deve ser maior, uma vez que aos fins de semana existem os regimes de plantão nos centros de saúde e em laboratórios, o que atrasa o repasse das informações.
Em relação ao número de casos no último período, o país registrou 42.980 novos infectados, acumulando 13.943.071 casos de covid-19 desde o começo da pandemia no Brasil.
Edição: Leandro Melito