IMPERIALISMO

Entenda do que se trata o Plano Biden para reativar a economia dos EUA

Presidente democrata busca aprovar novo pacote econômico de US$ 1,9 trilhão para salvar empresas da pandemia

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Joe Biden foi vice-presidente de Obama e atualmente tem 77 anos - Foto: Olivier Douliery/AFP

O jornalista Breno Altman analisou o plano econômico anunciado recentemente por Joe Biden, presidente dos Estados Unidos. O pacote constitui-se de duas partes, segundo explicou Altman.

A primeira é formada por um conjunto de medidas, no valor total de US$ 1,9 trilhão de dólares (cerca de R$ 9,5 trilhões), para aliviar as perdas provocadas pela pandemia, e leva o nome de Plano de Resgate Americano. 

A maior parte do dinheiro vai para ajudar pequenas empresas e auxiliar as famílias mais pobres com auxílio emergencial, extensão do seguro-desemprego e subsídio integral até setembro dos planos de saúde empresarial dos trabalhadores demitidos antes de março de 2021.

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A segunda parte compreende um plano de investimento em infraestrutura, chamado de Plano de Emprego Americano, no valor de US$ 2,25 trilhões distribuídos, nos próximos oito anos, entre infraestrutura geral e residencial.

Servirá para fornecer internet à população rural, renovar estradas até realizar incentivos à pesquisa e ao desenvolvimento de fontes de energia limpa.

Essa segunda parte do plano seria financiada, segundo o governo estadunidense, por um aumento de 21% para 28% do imposto corporativo, cobrado das empresas.

Os dois planos, somados, totalizam US$ 4,15 trilhões (aproximadamente R$ 20,7 trilhões), equivalente a 20% do PIB anual dos EUA. 


Pessoas queimam bandeiras de Trump, em Atlanta, Geórgia, no dia em que o republicando deixa a presidência, e Joe Biden se torna o 46º presidente dos Estados Unidos - 20 de janeiro de 2021 / JESSICA MCGOWAN / GETTY IMAGES VIA AFP

Reações ao plano de Joe Biden

O Plano Biden é visto pela oposição de direita como um abandono dos paradigmas da austeridade fiscal, que poderiam gerar uma espiral inflacionária no país.

Ao mesmo tempo, seus defensores, incluindo setores de esquerda, afirmam que o pacote tem o porte do New Deal, plano de recuperação econômica pós-Segunda Guerra do presidente Franklin Delano Roosevelt,que governou o país entre 1933 e 1945.

Para os apoiadores, o projeto de Biden coloca o crescimento da economia à frente dos supostos riscos inflacionários.

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Também estão os analistas “mais entusiasmados”, como define Altman, que consideram que o projeto pode representar o abandono da doutrina neoliberal, dominante há mais de 40 anos no mundo capitalista.

Defendem que estaria em curso um “reposicionamento do papel do Estado, mesclando objetivos de desenvolvimento e combate à desigualdade como novas referências para o capitalismo mundial”.

“De toda maneira, raras vezes se assistiu tamanha máquina de propaganda em defesa de um governo, como se Biden e seu plano fossem as possibilidades mais próximas de o mundo sair do inferno e se aproximar do paraíso”, argumentou Altman.


Durante a pandemia, os Estados Unidos bateram recordes de aumento da pobreza e desemprego. / HRW

O que esconde o plano de Biden?

Para o jornalista, o plano do presidente democrata se parece muito ao pacote aprovado por Trump, no início da pandemia, no valor de US$ 2,2 trilhões (cerca de R$ 10 trilhões).  Assim como ocorreu com Trump, o orçamento do plano Biden expira em um ano.

“Não há nada, em nenhuma das duas partes do plano, que leve à construção de um sistema universal, público e gratuito, de saúde. Apesar das quase 600 mil mortes e de milhões não terem qualquer assistência médica no país”, criticou.

De acordo com informações da Casa Branca, entre janeiro e outubro de 2020, os 10% mais ricos aumentaram seu patrimônio em US$ 14 trilhões.

Na última década, o 1% mais rico teve acréscimo superior a US$ 20 trilhões. “Mas não há qualquer medida que afete esses setores ou que compense os trabalhadores pela massiva transferência de renda em favor dos ricos”, agregou Breno Altman.

“Na prática, apesar do aumento do imposto corporativo, os dois planos se sustentam principalmente por endividamento governamental, não por uma reforma tributária progressiva. Isso significa, a médio e longo prazo, que os mais ricos poderão ganhar ainda mais dinheiro, com os juros pagos por esses títulos da dívida”, explicou.

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Além disso, não houve qualquer aumento do salário mínimo, atualmente de US$ 7,25/hora. No desenho original do plano, o objetivo era chegar a US$ 15/hora até 2025, mas a medida foi retirada da proposta antes da votação, com a justificativa de que o pacote não seria aprovado se ela fosse mantida.

Essa elevação poderia beneficiar diretamente 32 milhões de estadunidenses, de forma permanente, não como um auxílio único e emergencial.

“Ambos planos não trazem qualquer mudança relevante, de caráter mais permanente, na economia do país. Mais uma vez, trata-se de um plano de socorro ao capitalismo norte-americano, com certo alívio momentâneo aos mais pobres, com base nos recursos públicos”, defendeu Altman.


Joe Biden foi vice-presidente de Barack Obama em uma gestão que se manteve oito anos em guerra com distintos países do Oriente Médio / Telam

O jornalista agrega que o pacote econômico de Biden se parece ao plano de socorro de Barack Obama, após a crise de 2009, que esteve voltado para ajudar os bancos e as grandes empresas.

Segundo o jornalista, agora o foco é “permitir que as corporações norte-americanas ampliem sua renda a partir da renovação da infraestrutura interna, invistam em semicondutores e energia limpa, preparando-se para um novo ciclo tecnológico no qual os EUA enfrentarão feroz concorrência chinesa”. 

“Muitos se equivocam quando consideram que esteja na essência do neoliberalismo, como uma questão de princípio, a contenção de gastos e investimentos públicos. Sempre que necessário aos interesses da burguesia, da acumulação capitalista, o Estado intervém, mesmo nessa etapa neoliberal, para salvar o sistema”, reforçou.

Para ele, “não precisamos ter qualquer vacilação em afirmar que Biden continua um servidor leal ao capital financeiro e ao neoliberalismo”.

“Difundir ilusões a seu respeito, além de prejudicar a luta da classe trabalhadora e o combate ao imperialismo, significa tremendo, e até ingênuo, erro de análise, quando não ignorância, voluntária ou involuntária, dos dados concretos que estão em jogo”, concluiu.