Cerca de 200 parlamentares, partidos, líderes e organizações nacionais e internacionais ligados a movimentos populares construíram e enviaram uma carta para os líderes mundiais que participam, nesta quinta-feira (22), da Cúpula de Líderes sobre o Clima, organizada pelo presidente estadunidense Joe Biden.
No documento, as entidades afirmam que, diante da “grave” crise ambiental e saúde pública, “provocadas por crimes cometidos de forma continua pela ganância do lucro’, é necessário imediatamente a implementação de algumas medidas, como promover políticas públicas que enfrentem a fome e proporcionem segurança e soberania alimentar, sempre valorizando os alimentos provenientes da agricultura familiar, agroecologia e reforma agrária.
Também destacam a necessidade de garantir os direitos e o respeito aos povos tradicionais e originários, incluindo suas formas de manejo da natureza, produção e reprodução.
Nesse sentido, reforçam a criação de mecanismos econômicos de apoio para populações locais para que “mantenham e aprofundem suas ações de conservação da natureza, das florestas, das águas, dos alimentos sadios”.
Paralelamente, as entidades enfatizam a importância de garantir uma transição de matriz enérgica para formas sustentáveis, incluindo, por outro lado, implementar medidas para evitar a poluição nas cidades.
Por isso, nesta mesma linha, impedir a poluição de águas e solos, penalizando as indústrias química e de plástico; proibir o uso de glifosato, 2,4 D e outros agrotóxicos; e garantir formas de controle popular e estatal sobre empresas que têm impacto sobre o meio ambiente e populações tradicionais.
Para as entidades, “o capital financeiro e seus bancos e as corporações transnacionais controlam as economias, a exploração da natureza e os governos. Eles são os culpados e jamais oferecerão saídas verdadeiras. Querem, na realidade, um capitalismo verde, onde possam continuar destruindo, acumulando através de commodities ambientais”.
E complementam mais à frente: “O capitalismo, senhoras e senhores, caminha a passos largos para a barbárie social”.
Por fim, afirmam que a defesa é em nome de “um novo caminho, com nossas plantações e criações agroecológicas, na proteção das águas e dos bens da natureza, em nossas resistências territoriais, em nossas reconstruções solidárias nas cidades”.
Entre as 200 organizações que assinam o documento, estão as articulações internacionais Assembleia Internacional dos Povos, Articulação dos Movimentos Populares das Américas, Marcha Mundial de Mulheres e Via Campesina.
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Cúpula do Clima
O evento virtual que se inicia nesta quinta-feira (22) reúne 40 líderes mundiais e marca o retorno oficial dos EUA ao Acordo de Paris, um tratado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) que determina metas de redução de emissão de gases do efeito estufa, a fim de conter o aquecimento global.
Em meio ao contexto de descrédito mundial, fruto da gestão marcada pelo desmatamento recorde, desmonte de órgãos de fiscalização e graves acusações contra Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, Bolsonaro deve enfrentar resistência dos demais países.
Na tentativa de abrir diálogo com Biden e contornar a situação, o brasileiro enviou uma carta ao norte-americano uma semana antes do encontro, na qual prometeu acabar com o desmatamento ilegal no Brasil até 2030, desde que haja investimento internacional para tal.
Enquanto Salles estima que o país precisa de 10 bilhões de dólares por ano em investimentos estrangeiros para alcançar a neutralidade das emissões de carbono até 2050, outra meta assumida pelo presidente sem maiores detalhes, a Casa Branca exige políticas concretas e imediatas de combate ao desmatamento ilegal para liberar o dinheiro.
Edição: Leandro Melito