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Últimas notícias da vacina: Anvisa avalia pedido de uso emergencial da Sputnik V

Agência sanitária discute nesta segunda (26) pedido feito em 25 de março para autorização de importação do imunizante

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Com o atraso da análise pela Anvisa, Brasil pode perder 2 milhões de doses do imunizante que chegariam ao Brasil até o fim do mês - Foto: José Leomar

A Anvisa informou que realizará uma reunião extraordinária da Diretoria Colegiada nesta segunda-feira (26), às 18h, para avaliar os pedidos de importação da vacina russa Sputnik V, produzida pelo Instituto Gamaleya, feitos por estados e municípios.

Em nota, a agência explicou que "a data da reunião foi marcada em razão do prazo de 30 dias definido pela Lei, e confirmado pelo STF, para que a Anvisa avalie os pedidos de importação de vacinas para Covid sem registro". No dia 13 de abril, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, determinou que a Anvisa se manifeste sobre a "importação excepcional e temporária" de doses da Sputnik V até o fim de abril.

Inspetores da agência viajaram para a Rússia no dia 16 de abril para coletar mais informações sobre o imunizante. Até então, a Anvisa havia informado que faltavam informações técnicas sobre segurança e eficácia do imunizante.

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No dia 12 de abril, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), informou que entraria com uma ação no STF solicitando a liberação de 5,87 milhões de doses da vacina Sputnik V pela Anvisa.

Nas redes sociais, o governador afirmou que "a Sputinik V já é utilizada em cerca de 60 países, com eficácia de 91,6%. Iremos a todas as instâncias possíveis para que as vacinas que adquirimos cheguem o mais rápido possível para imunizar nossa população".

O estado oficializou a compra das 5,87 milhões de doses no dia 19 de março junto ao Fundo Soberano Russo. A compra fez parte de um acordo do Consórcio Nordeste, formado pelos nove estados da região nordeste, que estabeleceu a compra de 39 milhões de doses da Sputnik V.A compra também foi autorizada pela Assembleia Legislativa do Ceará e pelo STF, em caso de descumprimento do Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde.

A Sputnik V utiliza tecnologia de vetor viral: um outro vírus, denominado cientificamente como adenovírus, carrega o material genético do Sars-CoV-2 para dentro do corpo humano, o que estimula a infecção de células humanas, e consequentemente de anticorpos, mas sem a reprodução do vírus. Por isso, não causa doença.

Brasil pode perder 2 milhões de doses

Com o atraso da análise pela Anvisa, o Brasil pode perder 2 milhões de doses da Sputnik V que chegariam ao Brasil até o fim do mês. Segundo o governador do Piauí, Wellington Dias, “infelizmente, o Brasil vai perder a oportunidade do recebimento do lote de abril da vacina Sputnik V. A demora da licença de importação se deve à burocracia por parte da Anvisa e à burocracia de exigências que não estão previstas na lei. A lei prevê que seja apresentada a certificação por uma agência reguladora internacional. Isso foi feito pelos estados e ainda temos a exigência de uma série de outros documentos”.

O pedido para uso emergencial da Sputnik V foi protocolado na Anvisa no dia 25 de março pela União Química.

O secretário-executivo do Consórcio Nordeste, Carlos Gabas, afirmou que a entidade protocolou na última sexta-feira (23), uma série de documentos solicitados pela Anvisa para a liberação da vacina. 

Corte de R$ 200 mi para desenvolvimento de vacina "100% brasileira"

Na sexta-feira, o jornal o Estado de S. Paulo noticiou o corte de R$ 200 milhões para o desenvolvimento da vacina da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), ao sancionar o Orçamento de 2021.

O deputado Baleia Rossi (SP), presidente do MDB, afirmou em suas redes sociais que irá fazer “todo esforço possível” para derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à vacina "100% brasileira".

"Absurdo. Não há outra palavra para esse erro do atual governo. Vamos fazer todo esforço possível para derrubar esse veto", escreveu Baleia em seu perfil no Twitter.

Um pouco mais discreto, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, classificou o corte, que está ligado à sua pasta, de “estrago”. “Estamos tanto trabalhando para o orçamento do ano que vem, quanto vendo o que vamos fazer com o orçamento deste ano, com o estrago, vamos chamar assim. Realmente, foi muito comprimido esse orçamento", afirmou Pontes.

O chefe da pasta também disse que é impossível, de uma hora para outra, apenas "ligar" e "desligar" pesquisas.

O anúncio do corte veio um dia após a tradicional live de quinta-feira de Bolsonaro. Na ocasião, o capitão reformado perguntou ao ministro como está o desenvolvimento da vacina Versamune, produzida pela FMRP em parceria com a Farmacore Biotecnologia e a estadunidense PDS Biotechnology

Em resposta, Pontes já demonstrava preocupação com os cortes ligados ao Orçamento de 2021. "O nosso desafio aqui é justamente o Orçamento. Esse custo é um investimento muito bom para o país. São R$ 30 milhões para essa fase 1 e 2, um ensaio clínico com 360 pacientes, e depois são mais R$ 310 milhões com a fase 3, com 25 mil pacientes. Tenho esperança agora que isso entre no Orçamento", afirmou o ministro. 

Em seguida, Bolsonaro deu o tom do que viriam a ser os cortes de recursos para os ministérios com a aprovação do Orçamento. "A peça orçamentária para os 23 ministérios é bastante pequena e é reduzida ano após ano. Tivemos um problema no Orçamento no corrente ano, então tem um corte previsto bastante grande no meu entender, pelo tamanho do orçamento, para todos os ministérios. Todo mundo vai pagar um pouco a conta disso aí", disse Bolsonaro na live. 

“Só se fala em vacina”

Na mesma transmissão, o capitão ironizou a vacinação contra a covid-19. Em tom jocoso, afirmou que “é impressionante como só se fala em vacina, né?”. E complementou: “Mas também, uma compra bilionária, no mundo todo, então é só vacina. Ninguém é contra a vacina. O Brasil, tirando os países que produzem vacinas, é o primeiro no mundo em valores absolutos em doses aplicadas". 

No último sábado (25), o Ministério da Saúde atualizou o cronograma de previsão de entregas de imunizantes pelos fabricantes ao Brasil, mas, desta vez, com 22,55% menos doses ainda para o primeiro semestre deste ano do que o previsto anteriormente.

No começo do mês, o governo suspendeu a divulgação da previsão de doses que espera receber mensalmente dos fabricantes, após alterar pelo menos cinco vezes o cronograma de entrega das vacinas. Os primeiros cronogramas de recebimento de imunizantes foram divulgados em janeiro, ainda na gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Naquela época, os documentos já se mostravam defasados em comparação com a realidade dos atrasos dos imunizantes.

Resistência ao imunizante da AstraZeneca

Após relatos, mesmo que raros, de formação de coágulos sanguíneos e trombose em indivíduos que receberam a vacina produzida pelo laboratório britânico AstraZeneca na Europa, autoridades sanitárias brasileiras têm registrado recusa da aplicação do imunizante em quatro estados, até o momento: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Amazonas e Espírito Santo. 

O secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha, afirmou que houve baixa procura pela segunda dose do imunizante. Já no Rio Grande do Sul, diversos municípios registraram recusa à oferta da vacina.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Canoas (RS), “nas duas remessas mais recentes, o município recebeu para primeiras doses apenas a Astrazeneca, produzida no Brasil pela Fiocruz. Mesmo oferecendo alto nível de proteção contra a Covid-19, a desconfiança de parte da população se deve às notícias envolvendo o imunizante, que chegou a ter sua aplicação suspensa temporariamente em alguns países”, informou a pasta. 

No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que “as pessoas podem tomar com tranquilidade a vacina que estiver disponível no momento em que for se vacinar”, informou a pasta, em nota enviada ao Metrópoles. “As duas vacinas disponíveis no Brasil, a CoronaVac e a Oxford/AstraZeneca, protegem contra os efeitos do coronavírus no organismo e ambas são seguras para a população”.

Em março deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que o imunizante utilizado na Europa que desencadeou alguns casos de trombose não faz parte do mesmo lote utilizado no Brasil. 

Dados confirmam qualidade da AstraZeneca

Até o dia 4 de março, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) registrou 222 casos de trombose decorrente da presença de coágulo sanguíneo, entre 35 milhões de vacinados, ou seja, um caso a cada 175 mil imunizados, o que é considerada uma incidência baixíssima e, por isso, não deveria justificar o abandono do imunizante.

Um estudo britânico recente, publicado no dia 15 de abril, demonstrou, inclusive, que há mais riscos de aparecimento de coágulos sanguíneos cerebrais em pacientes com covid-19 do que entre aqueles que foram imunizados. De acordo com a pesquisa, a trombose venosa cerebral ocorreu em 39 pessoas dentro de um universo de 1 milhão de infectados. Já os números da EMA mostram que 5 entre 1 milhão de imunizados tiveram trombose.

Outra pesquisa, divulgada na última sexta-feira (23) pela Universidade de Oxford, mostra que após 21 dias da aplicação da primeira dose da vacina da AstraZeneca, o risco de infecção diminui em 65% em adultos de todas as idades. Detalhadamente, o risco de infecção sintomática diminui em 74% após três semanas da aplicação da primeira dose; enquanto os casos assintomáticos, em 57% no mesmo período. 

Vacinação e pandemia no Brasil

De acordo com o último balanço do consórcio de veículos de imprensa, até às 20h deste domingo (25), 29.031.874 pessoas receberam a primeira dose de vacina contra a covid-19, o que representa 13,71% da população brasileira. Já a segunda dose foi aplicada em 12.579.100 pessoas, ou seja, 5,94% da população. No total, 41.610.974 doses foram aplicadas. 

Paralelamente, o Brasil registrou, até às 18h deste domingo (25), 32.572 casos de covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando 14.340.787 infectados desde o início da pandemia no país, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Com relação ao número de óbitos, no mesmo período, foram 1.305, somando 390.797 mortes.

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Os dados mostram que houve um recuo do número de casos diários, ainda que em níveis elevados. Na última semana epidemiológica, foram 408.124 casos, ante 455.085 e 491.049 nas anteriores, respectivamente.

Edição: Poliana Dallabrida