Não tenho nenhum poder para mandar e nenhum juízo pra obedecer
Segundo um velho ditado, cachaça tem mais poder do que Deus, porque ele dá juízo, e a cachaça tira.
Realmente, é difícil um sujeito bêbado ter juízo. Mas fico pensando que às vezes um pouco de falta de juízo faz bem.
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Aliás, uma das coisas que eu mais odeio é quando vejo alguém dando ordens absurdas e gente obedecendo cegamente, com o argumento que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Até o ex-ministro da Saúde, general Pazuello, que não entende nada do assunto mas foi colocado no cargo pelo Capitão Cloroquina, uma vez foi repreendido e desmoralizado pelo chefe, em público, em vez de pedir demissão na hora, aceitou feito besta, dizendo que “um manda, outro obedece”.
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Pois é, quando alguém vem com esse argumento pra cima de mim, já falo logo: “Não tenho nenhum poder para mandar e nenhum juízo pra obedecer”.
Comecei falando dos poderes da cachaça, que tira o juízo dado por Deus, e acabei virando pra esse assunto, mas o que quero é lembrar de uma situação em que gostei de ver esse poder da cachaça.
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Um amigo meu que mora num sítio em Santa Isabel, no estado de São Paulo, me contou uma vez que um japonês vizinho dele plantava morangos. E na cultura do morango, na época, usava-se agrotóxicos demais.
Havia outros métodos de plantio que podiam eliminar pelo menos parte dos venenos para combater as pragas do morango, mas são métodos mais trabalhosos, então os plantadores apelavam para os agrotóxicos mesmo.
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Um dia, chegando a época da colheita, o japonês estava no meio da plantação e um filho dele, criança pequena, pegou um morango e comeu.
O pai ficou furioso, correu até o menino e falou que não podia comer aquilo, que era cheio de veneno. Deu uma baita bronca.
À noite, o japonês estava em casa tomando umas cachaças e ficou se lembrando disso, ruminando os pensamentos. Bebeu, bebeu... e concluiu: “Eu não deixo o meu filho comer o morango porque tem veneno, mas vendo para outras pessoas darem pros filhos”.
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Começou a achar que estava sendo incorreto. Bebeu mais umas e de noite mesmo, pegou o trator e arrasou a plantação.
Desde que ouvi essa história, penso: deviam fazer um filme sobre isso.
Viva o poder da cachaça!
Edição: Daniel Lamir