A polêmica vacina russa Sputnik V contra o coronavírus foi aprovada em 60 países em todo o mundo, a Agência Europeia de Medicamentos (Ema) ainda está testando o inoculante.
Mas, no Brasil, a Anvisa negou o pedido de importação da Sputnik V, argumentando que faltam dados técnicos para verificar a segurança e a eficácia do imunizante contra a covid-19 e afirmando que um dos vírus vetores usados da vacina, o adenovírus 5, não é inativo e consegue se replicar.
Representantes da Sputnik V afirmaram que vão processar a Anvisa por difamação. "Após a admissão do regulador brasileiro Anvisa de que não testou a vacina Sputnik V, a Sputnik V está iniciando um processo judicial de difamação no Brasil contra a Anvisa por espalhar informações falsas e imprecisas intencionalmente", anunciou o Fundo Russo de Investimentos Diretos (FIDR), na conta no Twitter que leva o nome da vacina.
O FIDR cita reportagem desta quarta-feira (28/04) no portal online da revista Superinteressante, segundo a qual a Anvisa reconhece que não testou o inoculante e que teria se baseado para tomar a decisão somente na análise de documentação fornecida pelos russos.
Desleixo?
Como os produtos da AstraZeneca e Johnson & Johnson, a Sputnik V é uma vacina vetorial. Quando usadas corretamente, essas vacinas vetoriais são muito confiáveis e significativamente menos complicadas do que as vacinas de RNA, porque podem ser armazenadas em temperaturas de geladeira.
Numa vacina vetorial, vírus inofensivos, por exemplo, vírus do resfriado inativos, transportam para o corpo humano as instruções de montagem para as proteínas spike, com as quais o patógeno Sars-CoV-2 se conecta às células humanas. O organismo da pessoa vacinada reconhece o material genético como um corpo estranho e forma anticorpos e células T específicas – ambos são importantes para o sistema imunológico.
Na verdade, é parte do procedimento padrão na produção de vacinas que os genes E1 e E3 sejam deletados, inativando os vetores virais. No entanto, esse não parece ser o caso dos lotes de Sputnik V submetidos ao controle de qualidade da Anvisa – seja por acidente ou negligência.
Isso pode ser perigoso, principalmente para pessoas com sistema imunológico fraco, pois se o vírus do resfriado usado como portador não tiver sido inativado, o paciente recebe o patógeno quase diretamente injetado e pode adoecer, como alerta no Twitter a virologista americana Angela Rasmussen, do Center for Global Health Science and Security da Universidade de Georgetown.
Eslováquia travou importação
Já em março de 2021 havia muito entusiasmo na Eslováquia sobre a Sputnik V. Durante o exame do instituto estatal de controle de medicamentos SUKL, descobriu-se que as 200 mil doses de vacina recebidas não eram idênticas em todos os detalhes à vacina Sputnik V usada em outro países à ou que fora apresentada na revista científica The Lancet. "A única coisa que essas vacinas têm em comum é o nome", concluíram os inspetores eslovacos.
O incidente levou a uma acalorada disputa entre a Rússia e a Eslováquia, cujo ministro da Saúde teve de renunciar. Desde então, a Rússia pediu de volta as doses que havia fornecido.