Sem parar de trabalhar desde o início da pandemia, os motoristas, cobradores de ônibus e outros funcionários da categoria estão pressionando o poder público para serem priorizados na fila da vacinação contra a covid-19 na Região Metropolitana do Recife (RMR), em Pernambuco.
No dia 13 de abril e na última segunda-feira (26), os rodoviários fizeram uma paralisação e endereçaram uma carta ao governador Paulo Câmara (PSB). Organizadas pelo Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, mobilizações pedem vacinas.
A categoria destaca que realiza o transporte de aproximadamente 1 milhão de pessoas só na Região Metropolitana da cidade e que não parou de trabalhar desde o início da pandemia.
O fiscal Luciano Gonzaga não atua dentro dos ônibus, mas mantém contato com muitos condutores. “Sempre fui chato com relação a uso de máscara, cobro mesmo. E limpo todo material com álcool”, explica. Mesmo com todos os cuidados, casos acontecem. O sindicato contabilizou ao menos 25 mortes na categoria.
“No meu terminal só teve um problema de covid. Ele estava dirigindo e percebeu que estava com febre. Mandei ele ir para a UPA, liguei para a garagem e pedi um substituto. E ele estava com covid mesmo”, afirma.
Os rodoviários cobram que o Governo do Pernambuco inicie a vacinação do grupo até 15 de maio, pedindo ainda que sejam contemplados os metroviários, os funcionários do transporte complementar e os orientadores que atuam nos terminais integrados de passageiros.
Gonzaga menciona ainda que a redução da frota, somado aos casos de contágio entre condutores, prejudica duplamente o usuário de transporte e coloca mais pressão na categoria. “Só estavam rodando dois veículos naquela linha e tive que deixar um parado até o substituto chegar”, recorda. “Perdemos vários colegas. Dois deles eu conhecia: um era supervisor na empresa Caxangá e outro era fiscal como eu, mas da empresa Borborema”, diz ele.
Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários garante que este número de infectados e mortes é ainda maior. “O sindicato registrou 25 óbitos, mas sabemos que este número já passa dos 30. A categoria clama por vacinação”, diz.
Lima menciona ainda situações da rotina profissional que acabaram por expô-los ainda mais. “Muitos condutores têm que acumular a função de cobrador. Pegar dinheiro, passar troco. Isso contribui para o motorista tanto se contaminar, como ser vetor de contágio para os passageiros. A isso, adiciona-se a superlotação de sempre”, reclama.
O líder sindical lembra ainda que parte dos ônibus circulam com janelas fechadas e ar-condicionado, o cenário ideal para a disseminação do novo coronavírus.
"Alguns veículos articulados foram substituídos por ônibus comuns, já que está havendo um projeto de desmonte dos BRTs. E parte dos veículos circulando ainda são ‘sanfonas’, as janelas não abrem e eles funcionam com ar-condicionado”, diz Aldo. Ele descreve a rotina profissional do motorista como estressante e tomada por medos, sendo o vírus um a mais.
Segurança só virá com a vacinação
Para o sindicalista, se o transporte público é serviço essencial, “quem carrega a responsabilidade precisa ter garantida a vacinação”.
“Na Região Metropolitana, somando também os trabalhadores de operação, RH e mecânicos, somos de 12 mil a 15 mil profissionais. Não é um número muito alto que torne inviável [a vacinação para todos”, avalia.
Para vacinar toda a categoria, considerando que são duas doses para cada pessoa, seria preciso entre 25 mil e 30 mil vacinas para imunizar todos os rodoviários da RMR. Em um dia, desta terça (27) para a quarta-feira (28), o estado de Pernambuco aplicou 52 mil vacinas.
O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação (PNO) elenca 27 grupos prioritários. Os “trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros” aparecem na posição 21 dessa lista, após as Forças Armadas. Os trabalhadores do transporte metroviário (22º), aéreo (23º), aquaviário (24º) e caminhoneiros (25º) também aparecem na lista.
As prefeituras e governos estaduais, apesar de não poderem inserir novos grupos entre as prioridades, podem alterar a ordem de acordo com a realidade local e a avaliação das autoridades sanitárias.
Aldo Lima informa que o sindicato protocolou ofícios nas secretarias de Saúde da cidade e do estado solicitando a inclusão dos rodoviários. Documentos também foram apresentados no Ministério Público estadual, que solicitou uma reunião com o Consórcio Grande Recife, órgão gestor do transporte público metropolitano. “Infelizmente, o sindicato não teve nenhum retorno dos órgãos públicos”, lamenta Lima.
Para Luciano Gonzaga, agilizar a vacinação dos rodoviários é uma medida que garante segurança para condutores e passageiros. “Se fosse mais cedo, teria evitado mortes não só da categoria, como as de alguns usuários. O Governo Federal está muito lento. Parece que quer matar os pobres”, opina.
Gonzaga trabalhava como fiscal, fazendo controle dos horários na empresa Cidade Alta, que atua em Olinda. A função também é conhecida como “coordenador de terminal” ou “líder”. Há poucos meses a empresa o demitiu, segundo ele por perseguição política devido sua atuação sindical. O caso está na Justiça trabalhista.
Enquanto a vacina não chega, resta aos rodoviários manterem as medidas preventivas. De acordo com Luciano, as empresas de transporte público foram negligentes com seus trabalhadores.
“No início da pandemia as empresas não estavam querendo nem dar máscaras e álcool. Depois houve uma manhã de treinamento, mas voltada apenas para os fiscais. Só isso”, explica. “Alguns terminais tinham álcool, outros não. Alguns motoristas e cobradores recebiam EPIs, outros não. O sindicato foi que correu atrás das empresas exigindo os itens e eles cederam, mas depois pararam. E esses EPIs a gente precisa renovar com frequência”, destaca.
O presidente do sindicato reforça as críticas. “Tem sido extremamente irregular o fornecimento de EPIs. Nesta quinta (29), o nosso sindicato terá uma reunião com o sindicato patronal (Urbana-PE), que representa os empresários do transporte, para exigirmos máscaras apropriadas para dar uma garantia maior aos funcionários. Além das máscaras, álcool em gel e higienização adequada dos ônibus”, afirma Aldo Lima.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga e Poliana Dallabrida