As eleições nos territórios palestinos ocupados, marcadas para 22 de maio, devem ser postergadas. O atraso nas eleições, as primeiras em 15 anos, se deve à provável recusa de Israel em permitir que palestinos residentes da Jerusalém Oriental ocupada votem. Funcionários estatais egípcios que falaram com o veículo Al Araby nessa terça, 27 de abril, revelaram ter sido informados pela Autoridade Nacional Palestina (AP) sobre a decisão tomada em conversas fechadas entre Israel e Palestina. Eles relataram que a notícia seria anunciada na quinta-feira, 29 de abril, numa reunião em que estarão presentes representantes de todos os grupos políticos dos territórios da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza. Nabil Shaath, funcionário do governo palestino e próximo ao presidente da AP, Mahmoud Abbas, reverberou os comentários dos oficiais egípcios, afirmando que “é muito provável que o processo eleitoral seja adiado”.
Um diplomata egípcio e um membro dos serviços de inteligência do país, que preferiram não ter seus nomes revelados, disseram que a decisão havia sido tomada após conversas entre Israel e o Egito falharem em chegar a um acordo que garantisse o voto dos palestinos residentes da Jerusalém Oriental. Há alguns dias atrás, o presidente Abbas havia declarado que a eleição geral palestina não ocorreria sem a participação de Jerusalém, afirmando que tal tentativa esbarraria numa “linha vermelha”.
Em nota publicada pela agência oficial de notícias WAFA no domingo passado, Abbas disse que “Jerusalém é uma linha vermelha e não aceitaremos nenhum dano à cidade. Afirmamos que sob nenhuma circunstância aceitaremos que a eleição geral aconteça sem que o povo de Jerusalém possa votar, concorrer e fazer campanhas”. Ele também incitou a comunidade internacional, especialmente os Estados Unidos, a União Europeia, a Organização das Nações Unidas (ONU), a Rússia e a China, a pressionar Israel para permitir a participação da Jerusalém Oriental nas eleições, em conformidade com compromissos prévios entre Palestina e Israel, tais como os Acordos de Paz de Oslo, de 1993.
De acordo com a comissão de informação palestina, aproximadamente 150000 palestinos residentes na Jerusalém Ocidental não dependem da permissão de Israel para votar nas eleições gerais. Cerca de 6000 pessoas precisam dessa autorização, pois devem depositar seus votos nos correios israelenses. Apesar do número reduzido de pessoas, palestinos de várias filiações políticas e ideológicas afirmam que a questão tem imenso peso simbólico no pleito e para a causa palestina em geral. Segundo eles, manter as eleições em maio e as eleições presidenciais em julho equivaleria a subscrever às alegações de Israel, que afirma sua soberania sobre a parte oriental de Jerusalém.
Segundo as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, uma série de planos de paz e a maior parte comunidade internacional, a cidade de Jerusalém é um território disputado. Em qualquer acordo futuro entre os dois Estados, a parte oriental da cidade deveria ser a capital de um Estado Palestino independente, viável e contínuo. As leis internacionais pressionam Israel a se recolher às fronteiras anteriores a 1967 e a entregar os territórios ocupados da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza aos palestinos. Israel passou a controlar essas áreas após a Guerra dos Seis Dias, quando anexou grandes porções dos territórios da Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Ao longo dos anos, inúmeros assentamentos ilegais foram construídos nas áreas anexadas.
Nos últimos meses, Israel realizou várias tentativas de influenciar e perturbar o processo eleitoral palestino. Além de prisões de potenciais candidatos e líderes do grupo de resistência palestino Hamas pelos serviços de inteligência e forças de segurança israelenses, também há relatos de ameaças para que a população não concorra a cargos ou participe das eleições. O mesmo ocorreu nas eleições palestinas de 2006, quando prisões coletivas de candidatos e líderes relacionados ao Hamas aconteceram na Cisjordânia, tendo em vista evitar que o grupo ganhasse o pleito.
Israel ainda não se manifestou sobre a permissão aos residentes da Jerusalém Oriental para que votem nas eleições de maio. Em clara violação das leis internacionais e de diversos acordos assinados no passado, considera a cidade de Jerusalém “a capital eterna e indivisível do estado de Israel”. A ONU e diversos membros da União Europeia se pronunciaram recentemente insistindo que Israel permita que os palestinos na Jerusalém Oriental participem das eleições de forma livre e justa.
*Publicado originalmente no People's Dispatch
Edição: Peoples Dispatch